Fala jornalista César Espindola:
- Li com tristeza e revolta que o "Casarão dos Gondins", um belíssimo solar, centenário, localizado na Rua General Sampaio, no Centro de Fortaleza, foi demolido pelo atual proprietário do imóvel, mesmo estando em processo de tombamento. Mais uma violência absurda contra a cidade que é seguidamente descuidada com a sua memória. O solar foi ponto de encontro de artistas e músicos locais e havia uma proposta para que o solar desse abrigo ao "Museu da Música de Fortaleza". O empresário que demoliu o imóvel, infelizmente, não teve a sensibilidade de compreender a importância histórica daquele solar. Quanto ao processo de tombamento, é inaceitável a demora que permitiu essa violência contra o patrimônio histórico e afetivo da cidade".
Joaquim Luciano - Em processo de tombamento, casarão dos Gondins é demolido. Localizado na Rua General Sampaio, no Centro, o imóvel foi construído em 1912 por Arlindo Granjeiro Gondim e serviu, durante muitos anos, como cenário de encontros para a música Casarão dos Gondins (CASARÃO DA MUSICA).
Arlindo Granjeiro Gondim construiu o seu casarão da rua General Sampaio (entre a Pedro I e a Avenida Duque de Caxias, então Boulevard Duque de Caxias) entre 1910 e 1912. A casa é elevada, possui porão e tem entrada lateral com escada de acesso em mármore branco.
Arlindo Gondim foi um bem sucedido comerciante, proprietário de marmoraria e de uma Companhia de Bondes Puxados a Burro.
No dia de seu aniversário, a professora do curso de Ciência Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC), Linda Gondim, de 60 anos, teve conhecimento de algo que não esperava: o casarão dos Gondins, construído por seu bisavô em 1912, Arlindo Granjeiro Gondim, havia sido demolido. O solar serviu de local onde a família se reunia para ouvir a avó tocar piano e as filhas dela cantarem.
- Infelizmente, recebi essa péssima notícia. O casarão [localizado na rua General Sampaio, no Centro de Fortaleza] estava em processo de tombamento provisório, mas foi destruído antes de ser concluído”, lamenta. Com a entrada do processo de tombo, o local já não poderia sofrer alterações estruturais.
O solar foi vendido em 2017 para um comerciante. A socióloga, que tem doutorado em Planejamento Urbano e é professora da pós-graduação em Sociologia, jamais imaginava que poderia vivenciar, na prática, exatamente o que estuda. O casarão se manteve igual ao que foi projetado pelo bisavô até essa sexta-feira (16), com exceção do enorme quintal, que já tinha virado estacionamento.
- A gente chamava de chácara. Ali tinha pé de seriguela, de manga. Eu me encontrava com os meus primos para brincar. Cortaram tudo para fazer o estacionamento”, lamenta.
Nessa sexta-feira ( 16), a professora recebeu a notícia de que estavam destelhando o solar e imaginava que se tratava de um restauro, tipo de obra possível em casos como de imóveis em processo de tombamento.
Na manhã deste sábado (17), quando inteirou seis décadas, Linda recebeu a notícia de que a casa já estava sem paredes. Toda a memória, agora, ficaria somente nas lembranças. “Parece que eu estava pressentindo. Acordei angustiada e pensando na casa”, diz.
O documentário Casarão da General Sampaio foi gravado no imóvel em 2003 para estimular a ideia de o imóvel abrigar um museu da casa e da música do Ceará. De autoria de Maurício Cals, o vídeo traz o imóvel ainda bastante preservado, com o assoalho em madeira antiga, chão de tábuas formando desenhos, e mostra ainda Maria Thereza, Maria Guilhermina e Maria Margarida dando continuidade ao talento da avó, tocando piano e cantando músicas em português e em francês.
Em 2022, o solar completaria 110 anos. O documento de tombamento provisório, com data de 21 de abril de 2011, afirma que o imóvel ficaria, a partir daquele momento, legalmente protegido contra destruição ou descaracterização. Toda a intervenção ou processo de alteração na casa deveria ser previamente comunicado e autorizado pela Coordenação de Patrimônio Histórico Cultural da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor).
Na parede do imóvel, um número de autorização para a demolição mostra que o objetivo era de demolição total".
Fortaleza Nobre - Amigos, mais um triste capítulo de nossa história está sendo apagado pela borracha da especulação imobiliária. A vítima da vez é o casarão dos Gondim, na rua General Sampaio.
Arlindo Granjeiro Gondim construiu o seu casarão da rua General Sampaio (entre a Pedro I e a Avenida Duque de Caxias, então Boulevard Duque de Caxias) entre 1910 e 1912. A casa é elevada, possui porão e tem entrada lateral com escada de acesso em mármore branco.
"Vovô dizia assim – "Eu vou mandar construir a casa que dê pra rua”. E diziam assim pra ele: – "faça um pouco elevada, porque esse terreno é um pouco úmido". Parece que tinha uma lagoa lá pra trás, não sei onde é, eu sei que o terreno era um pouco úmido. Chamavam meu avô de Coronel, porque nesse tempo, não tinha um negócio de chamar de Coronel quem tinha uma certa posição? Era Coronel Arlindo, que era também o nome do meu irmão mais velho, Arlindo. A Iaiá cuidava muito da casa, a minha avó e o meu avô. Todo ano quase ela mandava limpar e tinham todos os enfeites, era uma cor diferente, ela disse que era bege com "café-com-leite". Mas... agora está diferente. A minha avó ficou morando nesta casa desde que ela foi construída, até falecer. [...]
Relato de Maria Guilhermina Gondim
Para saber mais sobre o casarão, acesse os stories.
- A última foto é do @carricosta
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