A Indústria Têxtil e de Vestuário é a segunda maior em matéria de consumo, perdendo apenas para a indústria alimentícia, mas esse não é o único ranque que ela lidera. Também é a segunda mais poluente do mundo, gerando toneladas de resíduos a cada ano. Pensando nisso, as grandes marcas vêm se conscientizando e investindo em pesquisas e tecnologias para reduzir esse impacto ambiental.
Nos últimos anos a palavra de ordem tem sido a sustentabilidade. O consumidor está muito mais consciente do seu papel e tem exigido uma postura mais ecologicamente correta por parte dos fabricantes. Pensando na diminuição do impacto ambiental causado pelas indústrias, surgiram várias práticas sustentáveis como o slow fashion, upcycling, recycling, downcycling e o movimento Zero Waste.
A indústria 4.0, considerada a quarta revolução industrial, também veio como uma forte aliada nesse processo de otimização dos processos e diminuição do desperdício. Um grande exemplo disso são os softwares de encaixe que conseguem ter um aproveitamento de 80% a 90% do tecido. É bem verdade que nunca fomos tão conscientes e engajados na conservação do meio ambiente como agora, mas a cada dia o mercado cresce e mesmo com todas essas alternativas não têm surtido um efeito tão expressivo quanto o esperado. Por isso, a necessidade de estar sempre investindo em pesquisas para a diminuição do desperdício.
O movimento Zero Waste vem sendo pautado em vários setores da Indústria. Na Moda, uma nova forma de design vem surgindo que é a modelagem Zero Waste, que como o nome já diz, foca no zero desperdício, ou seja, no aproveitamento de 100% do tecido. Sabemos que no corte é gerado uma grande quantidade de resíduo que por vezes são descartados de forma irregular. Nessa nova forma de design, o processo criativo é bem diferente do convencional, onde os setores são destintos, estilo, modelagem, encaixe, corte e costura. Muitas vezes, esses setores trabalham de forma isolada sem comunicação entre si.
Para trabalhar com a modelagem zero desperdício é preciso romper esse paradigma e trazer todos esses setores para o processo de criação. O tecido é escolhido antes do design. Ele é medido e estudado primeiro, para só depois vir a criação. Uma outra característica desse tipo de modelagem são que os moldes possuem linhas mais retas para facilitar o encaixe. Por isso, as peças são mais amplas e fogem um pouco do convencional.
Desenvolver esse tipo de produto não é uma tarefa fácil, pois exige muita pesquisa e sensibilidade. É necessário avaliar o público-alvo com cuidado e testar a aceitação do produto, porque de nada adianta o aproveitamento de 100% do tecido se o design não é atrativo e, portanto, não é vendável. Um outro desafio dessa prática se dá pela gradação desses moldes, pois o aproveitamento total do tecido deve se dar em todos os tamanhos. Daí, a necessidade de amplo conhecimento de modelagem e da matéria-prima. Uma alternativa proposta por algumas marcas é que, por se tratar de peças amplas, as mesmas possam atender até três tamanhos.
A modelagem Zero Waste traz vantagens ao diminuir o desperdício. Porém, deve ser estudada e muito bem aplicada para que não acabe por causar o inverso da sua proposta, pois a prática mal executada pode ser tão maléfica quanto o consumo inconsciente.
Referências:
SARAIVA, Cátia Vanessa Madaleno. Modelagem: Zero-waste. 2014. 78f. Tese de mestrado - UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR Faculdade de Engenharia, Espírito Santo.
Docente do Curso de Design de Moda do Centro Universitário Ateneu
Especialista em Gestão do Design de Moda e tecnóloga em Design de Moda. Atua no mercado como modelista na empresa Guararapes Confecções S.A.
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