- Abraço, jornalista!
Não conheci ninguém que levasse tão a sério o Jornalismo, como uma profissão, como uma instituição da sociedade, ou como um princípio ativo.
Este setembro, já tão difícil, levou, de nossa convivência, o querido Anderson Sandes. O Anderson era dessas figuras que provocam na gente um exercício bom de não se saber definir por inteiro, dispostas em nuances a serem vivenciadas e descobertas, que opera, na gente, uma dubiedade boa de afetos. Era, por complexidade, um homem extremamente cuidadoso e que sempre precisava de cuidados.
Flutuava numa báscula continuada entre ensinar o máximo possível e estar aberto a aprender com qualquer um que trouxesse uma ideia, ou, que se dispusesse a dizer para ele uma novidade. Não conheci ninguém que levasse tão a sério o Jornalismo, como uma profissão, como uma instituição da sociedade, ou como um princípio ativo. Poderia parecer ingênuo no contato delicado do diálogo, mas sabia de sua missão. Era opinioso, não por implicância ou para exibir uma sabedoria de frase, mas para estar perto, para poder participar das coisas. Num mundo repleto de ações descuidadas como primeira grandeza, cada vez mais, nós precisamos estar juntos e, também, dar mostras de que estamos e estaremos juntos. Ele estava.
No início de agosto, fui visita-lo em casa. Havia deixado o hospital e, apesar da gravidade do caso clínico, tinha tido uma melhora. Estava magrinho, abatido, mas com o sorriso aberto e generoso de sempre. Levei-lhe um livro de presente. Havia passado umas duas horas escolhendo na livraria, o que poderia ser. Ele sempre leu muito, principalmente literatura e teoria do jornalismo. E, por principal, gostava dos livros. Sempre dizia de suas impressões da leitura de ocasião, contrapondo com suas preferências. Nas estantes, pensava comigo: ‘esse ele já leu’, ‘esse outro ele já deve ter’, ‘esse pode ser um pouco pesado para o momento’ etc etc.
Peguei um do Mia Couto, em narrativas curtas. Dessas obras em que há trajetórias de pessoas em revelação pela palavra. Nada de mais. Era, sobretudo, para marcar essa trindade: a revelação pela palavra, o objeto livro e a amizade: coisas que se mostram deficitárias de valor atualmente, mas que a gente deve insistir, sempre. No fundo, queria mesmo era chegar com um livro de presente. Por ele, por mim, por alguma esperança que se fez texto um dia. Há quase vinte anos, sou seu colega de trabalho. Primeiro em Fortaleza, depois pelo Cariri. Sinto e sentirei sua falta! O que nos cabe é, apenas, homenageá-lo, insistindo na palavra, por dever de ofício, por saudade e por amor à verdade!
Ricardo Rigaud Salmito-Professor da UFCA.
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