Morreu na noite deste domingo (2/2/2025), em Fortaleza, aos 94 anos, o multi artista Ary Sherlock. O ator lutava contra uma Demência (Mal de Lewy) há mais de 10 anos.
- Atriz e jornalista Lana Soraya: Ary Sherlock: amigo e mestre. Há pessoas que passam por nossas vidas como ventos ligeiros, deixando apenas rastros passageiros. E há aquelas que se tornam parte da nossa própria história, entrelaçando seus passos aos nossos de forma indelével. Ary Sherlock foi assim para mim: amigo, mestre, companheiro de cena e de vida. Foi ao lado dele que dei meus primeiros passos na Televisão, aprendendo com seu talento e sua paixão pela arte. No dia do meu casamento, ele assumiu um papel, que nunca esquecerei: com palavras cheias de emoção, representou meu pai em um discurso que ainda ressoa no meu coração. Mais que um amigo, Ary foi família. Acompanhou o crescimento da minha filha, sempre presente, sempre afetuoso. E quanta grandeza havia nele! Mesmo sendo um mestre, teve a humildade e a generosidade de se deixar dirigir por mim no espetáculo O Fabuloso Catador de Histórias. Como foi especial dividir essa experiência com ele! Agora, Ary segue em outra cena, em outro palco, mas sua presença permanece viva em cada lembrança, em cada ensinamento, em cada gesto de amizade e amor. A saudade é imensa, mas a gratidão por tê-lo em minha vida é ainda maior. Obrigada por tudo, meu amigo! Eterna gratidão! Você é luz! Brilhe, brilhe".
- Radialista Deugiolino Lucas: Sinto muito informar caríssimos amigos do FACE, Imprensa, Classe Teatral, Companheiros da Academia Cearense de Teatro e amigos do ontem, hoje e sempre da TVC Canal 5 - o falecimento do nosso querido e amado ARY SHERLOCK - O hábil, talentoso e genial interprete de tantos personagens memoráveis. Ele não foi apenas um grande ator, foi um artista plural, um homem que mexeu com todas as linguagens do universo da comunicação do Teatro, Rádio, Cinema e Televisão. Um grande amigo, uma super figura de grande personalidade. Fez História e Estória. Deixou um grande legado para o Estado do Ceará, o Brasil e o Mundo. Pois, ele era um Mundo de conhecimento e de paixão por esta missão que a vida presenteou. Ficará inesquecível na nossa memória. Já estar em órbita lá no alto brilhando com outras grandes estrelas.....
Descendente de irlandeses, Ary Sherlock, nasceu em Sobral-Ceará, em 25 de agosto de 1930. Com 80 anos de Teatro, Ary Sherlock estreou como ator na peça 'Os Mortos Sem Sepultura', de Jean-Paul Sartre (tradução e direção de Vicente Marques), encenada no Theatro José de Alencar (TJA) pelo Grupo Teatro Experimental de Arte, em 25 de novembro de 1954. A partir de 29 de março de 1956 integra-se à tradição de durante a Semana Santa, no Patronato Nossa Senhora Auxiliadora (avenida Imperador), encenar sob a direção de Waldemar Garcia a peça Cristo no Calvário (com versos de Eduardo Garrido) na qual interpreta Caifaz e posteriormente Judas. Atua também em A Canção Dentro do Pão, de R. Magalhães Júnior e A Revolta dos Brinquedos, montagens da Comédia Cearense dirigidas por Haroldo Serra em 1958.
Ainda nos anos 1950 faz parte dos Grupos Teatro Jangada e Teatro de Brinquedos (este de Rui Diniz, pioneiro em teatro para crianças), dirige os universitários que representam o Ceará no Primeiro Festival de Teatro de Estudantes do Brasil (promovido por Paschoal Carlos Magno em Recife, 1958), funda o Grupo Jograis do Ceará (que se apresenta com poemas dramatizados sobretudo em clubes e escolas), assina colunas no jornal Gazeta de Notícias (sobre Literatura, Teatro e Cinema) e compõe o elenco de radionovelas da PRE-9 (Ceará Rádio Clube) e Dragão do Mar.
Na TV Ceará-Canal 2, primeira emissora da Televisão Cearense, fundada em 26 de novembro de 1960, Ary se torna roteirista e diretor, liderando intensa produção de teledramaturgia inclusive inúmeras novelas, como 'O Pobrezinho de Assis'. Entre as suas diversas participações em teleteatros destaca-se a atuação (personagem Gedeão) em Os Deserdados, peça de Eduardo Campos adaptada para TV por Hildeberto Torres que em concurso internacional na Espanha conquista (1967) a terceira colocação do Prêmio Ondas.
Ary faz incursões no âmbito musical, pois figura como letrista da trilha sonora de pelo menos duas de suas telenovelas da década 1960: Quando as Nuvens Passam (“Quando o cigano canta parece despontar na garganta/ o eco do coração/ É como se forte sentisse/ e em cada existisse/ a saudade que é o tema da canção”) e As Duas Órfãs (Quando o vento passa/Leva a fumaça da recordação/ Quando o amor termina/ deixa a saudade no meu coração”).
Em 1968, Os Diários e Emissoras Associados, conglomerado ao qual pertence então a pioneira TV Ceará, passa a adotar em rede nacional o videotape e concentra no Rio de Janeiro e em São Paulo os seus núcleos de produção teledramatúrgica. Desfaz-se, então, no Canal 2 o Departamento de Teleteatro e Ary Sherlock adota Teresina como campo de trabalho, exercendo a crônica social no jornal piauiense O Estado e capitaneando (de 1968 a 1973) as encenações de A Paixão de Cristo, O Cão Gasolina (representante do Piauí no V Festival do Teatro de Estudantes/Rio de Janeiro, 1968), O Auto de Lampião no Além, de José Gomes Campos, e A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água, versão para o palco do romance homônimo de Jorge Amado.
Em outubro de 1973, Ary volta a Fortaleza para no Canal 2 roteirizar e dirigir 'O Som, a Luz, as Cores e os Muitos Amores de Fortaleza', show que em 26 de novembro de 1973 inicia no Ceará o processo de emissão de TV em cores. O programa (dramatização de um poema de Guilherme Neto por Ivete Pereira, Cleide Holanda e Ricardo Guilherme, entre outros) apresenta letra de sua autoria, musicada por Rodger Rogério: "A luz do sol/ o verde do mar/o azul do céu vamos mostrar/ coisas bonitas da capital/ coisas queridas do Ceará/ TV a cores, canal 2 é um encanto, uma beleza/ O som, a luz, as cores e os muitos amores de Fortaleza".
Em 7 de março de 1974 surge a TV Educativa Canal 5 (atual TV Caerá-TVC). Implanta-se, por iniciativa do Governo do Estado, o sistema de tele-ensino (do então chamado Primeiro Grau) e dá-se a efetivação de Ary Sherlock no cargo de produtor-executivo que lhe enseja principalmente a criação de telenovelas didáticas como Futurama e O Sobradão nas quais as abordagens dos conteúdos das disciplinas estudadas em cada dia letivo contextualizam as ementas e o currículo escolar em situações cotidianas, vivenciadas pelas personagens na trama. Motivado por essa sua inserção no campo educacional, Ary conclui graduação em Pedagogia (1983) e Especialização em Supervisão e Administração Escolar (1985) na Universidade de Fortaleza (Unifor).
Prestes a se aposentar e também depois da aposentadoria como funcionário público (em 1994), Ary intensifica sua carreira de ator teatral representando textos como A Mente Capta, de Mauro Rasi (1989, 1995), Francisco, o Homem que se Tornou Santo, de José Alberto Simonetti (1999), A Paixão de Cristo, de Almeida Garret (de 2001 a 2014), Coisas, Palavras e Canções, de autores diversos inclusive Ary Sherlock e Ricardo Guilherme (2008), O Fabuloso Catador de Histórias, de Lana Soraya (2010) e Na Corda Bamba, de Aldo Marcozzi (2012). Participa também dos filmes O Noviço Rebelde, de Tisuka Yamasaki (1997) e Luzia-Homem, de Bruno Barreto (1987), bem como da minissérie Sedição do Juazeiro, de Jonasluís de Icapuí (2012) em que interpreta o papel de Padre Cícero Romão.
Com informações de Raymundo Netto e Ricardo Guilherme.
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