A Páscoa 2022 está chegando e muita gente pretende aproveitar a data festiva mais doce do ano para garantir aquele dinheirinho extra, produzindo e vendendo seus ovos de chocolate artesanais. Mas como calcular corretamente o preço que deve ser cobrado?
É comum esquecer de considerar alguns custos não tão evidentes e, finalizadas as vendas, perceber que acabou não tendo nenhum lucro com essa comercialização ou até prejuízo.
Caio Nunes, professor de Gastronomia da Wyden, explica quais são os quatro passos simples para garantir a melhor rentabilidade.
Passo 1 – Somar cuidadosamente todos os custos
Algumas despesas são mais óbvias, outras, nem tanto, por isso cheque se você incluiu tudo:
- Ingredientes - chocolate, recheio, confeitos, ou seja, tudo que você precisa para produção dos ovos de Páscoa;
- Embalagens - desde as mais simples até as mais elaboradas. Use a criatividade para gastar menos;
- Despesas para a compra do material – muito importante considerar a gasolina, Uber ou frete de matérias-primas compradas pela internet;
- Despesas “invisíveis” – ao valor total, adicione mais 10% para agregar os custos “invisíveis”, como água, luz e gás.
“Com a soma desses custos e sabendo o rendimento da sua receita, é possível chegar ao valor de cada ovo de Páscoa”, destaca Caio Nunes. “Por exemplo, supondo que valor desta etapa fique em R$ 50,00 e, com isso, seja possível produzir 10 ovos, o valor dos custos diretos para produzir uma unidade de ovo fica em R$ 5,00”, diz o professor da Wyden.
Passo 2 – Verificar quanto tempo é necessário para a produção
“Usando o exemplo do Passo 1, já sabemos que o volume produzido com aquele material é de 10 unidades, agora precisamos saber o que incluir nesse tempo que é gasto para a fabricação desses 10 ovos”, aponta Nunes. “Esse período deve incluir o tempo para fazer as compras, preparar as receitas, embalar cada ovo e limpar a cozinha”, enumera. “Vamos imaginar que você somou todos os tempos e chegou a 240 minutos, ou quatro horas, para 10 unidades, ou seja, você leva 24 minutos para preparar cada ovo de Páscoa”.
Passo 3 – Precificar seu tempo
“Considere o seu produto e descubra na sua região qual o salário base para uma confeiteira ou auxiliar, sabendo que a remuneração base para essa função deve ficar por volta de R$ 2.500,00”, indica o coordenador do UniMetrocamp Wyden. “Dívida este valor por 220 - que é o número de horas trabalhadas por um funcionário em uma empresa - para encontrar o valor da mão de obra por hora”, ressalta. “Neste caso, o resultado da divisão é R$ 11,36, e este é o valor da hora trabalhada pelo funcionário”.
A partir daí, o especialista explica que é possível determinar o valor do tempo para produzir um ovo de Páscoa. “É preciso dividir R$ 11,36 por 60 (minutos) e multiplicar por 24 (tempo gasto para produzir cada unidade)”, ensina. “O resultado é R$ 4,54, e esse é o valor do tempo transformado em dinheiro para produzir uma unidade”.
Passo 4 – Calcular o preço de venda
Com todas as informações anteriores em mãos, finalmente é possível determinar corretamente o preço de venda do seu produto. “O preço mínimo é o valor final dos Custos por Unidade + o valor final do Tempo por Unidade”, informa Caio Nunes. “No nosso exemplo acima, então nosso ovo de Páscoa tem o valor final mínimo de venda de R$ 9,54, ou seja, cada ovo de Páscoa tem R$ 5,00 de custos + R$ 4,54 de tempo”, esclarece. “Neste caso só compensa vender cada unidade por este preço mínimo para assegurar a rentabilidade”, completa o professor da Wyden.
SALGADA - Com uma alta de 83% acumulada nos últimos 12 meses nos produtos que compõem o cardápio da Páscoa, algumas tradições da festividade religiosa podem estar comprometidas. Os índices de inflação apontam que a maré não está para bacalhau, uma vez que o produto teve uma alta de 6,26%.
Além do peixe, o chocolate, que faz a alegria de crianças e adultos, registrou aumento médio de 10,74%. Usado no preparo de outras sobremesas típicas da época, como canjica, o açúcar refinado teve variação de preço de 43,77%.
O economista e professor da Estácio, Thiago Holanda, faz uma análise do atual cenário econômico, explicando que em primeiro lugar é preciso entender que a alta de preços é um fenômeno mundial. Vários países estão enfrentando a mesma dificuldade, e os fatores que causam isso são muitos: desde a guerra na Ucrânia, até a alta nos preços do barril de petróleo, que é matéria prima para a utilização de vários outros produtos e serviços.
“A inflação brasileira, que tem como agravante, a queda drástica do valor do Real no mercado externo, atingiu quase todas as camadas da economia, inclusive do agronegócio. Internamente, apesar do crescimento, nossa economia ainda não conseguiu ajustar-se frente a todos os problemas que têm acontecido e que vem desde heranças de governos anteriores até a pandemia e a guerra na Ucrânia, avalia, salientando que esses problemas vêm acontecendo sob a forma de um efeito cascata, não permitindo uma reabilitação econômica consistente e, com isso, as flutuações fazem sentir-se nos preços”, explica o economista.
Analisando o mercado nacional e internacional de um dos subprodutos dos ovos de Páscoa, que é o açúcar, Thiago Holanda diz que o Brasil está cada vez mais forte no setor de agronegócio, além de ter uma produção fantástica no campo, mas duas coisas vêm ocorrendo para elevar os preços ao consumidor.
“Uma delas é a destinação de boa parte da matéria-prima para o setor de combustíveis (produção de álcool), que está apresentando uma excelente rentabilidade no cenário atual. A outra se trata da contenção da produção para a elevação dos preços no mercado internacional, pois o Brasil inundou esses mercados de açúcar e esse excesso de oferta fez com que os preços internacionais caíssem. Com isso, nossos produtores resolveram segurar a produção, com previsão até 2023, para fazer com que os preços internacionais subam e eles possam vender a preços mais competitivos”, comenta.
O economista salienta que estes movimentos causam uma redução da oferta do açúcar no mercado e novamente a lei da oferta e da procura se faz presente, pois com a oferta menor a causa consequente é o aumento de preços e seu repasse à indústria de chocolate e de outros produtos que têm como base os açúcares.
Dicas para uma Páscoa mais econômica-O professor da Estácio aponta ainda que vários outros componentes como leite, ovos, parafina, produtos de embalagem, sofreram influências tanto no mercado interno quanto do mercado externo, o que fez com que essa transferência de custo de produção fosse repassada ao consumidor final.
“Muita coisa aconteceu e o preço de produtos tradicionais se tornaram extremamente "salgados" em plena época de doçura, então nos resta pesquisar antes de comprar, tanto no comércio físico quanto virtual. Recomendo também os produtos substitutos como, por exemplo, a barra de chocolate no lugar do ovo de Páscoa, pois um ovo de 200 ou 300 gramas está custando em média R$ 43,90, quase o mesmo preço que uma barra de um quilo de chocolate (R$ 41,00 em média)”.
Outra dica do professor para reduzir os custos nessa época é trocar o bacalhau pela tainha ou merluza.
“Também pode pesquisar vinhos, azeites e demais alimentos mais baratos em vários locais. E claro, sempre se lembrar do objetivo real da Páscoa!”, completa.
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