Morreu neste domingo (5 de setembro), aos 75 anos, vítima de Câncer, o ex-ministro do Planejamento do Governo José Sarney, economista e professor João Sayad (foto).
Sayad foi professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), da Universidade de São Paulo (USP). Bacharel em Economia pela FAE-USP, foi, junto com Luciano Coutinho e Roberto Macedo, diretor do Centro Acadêmico Visconde de Cairu em 1966.
No ano seguinte à sua Graduação, em 1967, tornou-se professor do Departamento de Economia da FEA-USP, concluindo o Curso de Mestrado em Economia no Instituto de Pesquisas Econômicas (IPE) da FEA-USP em 1970.
Transferindo-se em 1973 para os Estados Unidos, obteve o título de Master of Arts na Universidade de Yale, na qual completaria sua formação acadêmica com o Philosophy Doctor (PhD) em economia em 1976. Pesquisador do IPE desde 1974, tornou-se livre-docente do Departamento de Economia da FEA-USP em 1978.
Ocupou outros cargos públicos, como:
- Secretário estadual da Fazenda de São Paulo nos dois primeiros anos da gestão de Franco Montoro (1983-1985).
- Secretário municipal de Finanças de São Paulo na Administração de Marta Suplicy (2001-2004).
- Secretário estadual de Cultura durante o Governo de José Serra (2007-2010).
- Ministro do Planejamento no Governo de José Sarney, tendo participado da elaboração e implementação do Plano Cruzado em conjunto de João Manuel Cardoso de Mello e Luiz Gonzaga Belluzzo.
Na iniciativa privada fundou, ao lado de Henri Philippe Reichstul e Francisco Vidal Luna, o Banco SRL, depois comprado pelo grupo American Express.
Em setembro de 2004, foi nomeado vice-presidente de finanças e administração do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Presidiu a TV Cultura de 2010 a 2012.
Integrante do grupo novos economistas paulistas (formado por José Serra, Luciano Coutinho, Marcos Fonseca e André Franco Montoro Filho, entre outros), João Sayad era contra a política econômica de juros altos e corte nos gastos públicos defendida por Dornelles. Colocou-se abertamente a favor da baixa imediata dos juros pelo Banco Central, entre outras medidas, criando com isso duas correntes dentro do comando econômico no Governo Sarney e aglutinando ao seu redor as forças que queriam afastar o ministro da Fazenda.
No início de julho, enquanto Dornelles esperava que a Secretaria de Planejamento promovesse um corte de 30 a 35 trilhões de cruzeiros nas estatais para diminuir o déficit público, João Sayad admitia chegar no máximo a 24 trilhões, argumentando que não queria comprometer a saúde financeira daquelas empresas. As divergências entre eles não foram resolvidas, mas Sarney decidiu ficar com a posição do grupo de Sayad, aprovando um corte de 28,6 trilhões de cruzeiros.
Em setembro de 1985, com o desgaste de Francisco Dornelles, o seu consequente pedido de demissão e a sua substituição na pasta da Fazenda pelo empresário Dílson Funaro, João Sayad tornou-se o principal interlocutor do novo ministro na condução da Política Econômica do Governo.
Mas com a inflação alcançando dois dígitos em janeiro de 1986, a Política Econômica, sustentada por controles parciais de preços com aumentos salariais, começou a dar sinais de perda de controle.
Em fevereiro seguinte, o presidente Sarney promoveu uma reforma do ministério, reduzindo a participação do PMDB e dando ao PFL 70% do poder econômico do ministério. Mesmo assim, Sayad continuou no cargo e junto com Funaro, amigo do presidente Sarney, recebeu a incumbência de baixar a inflação até abril, com controle de preços e salários.
O Plano Cruzado - No dia 1º de março de 1986, o presidente Sarney anunciou a criação do Plano Cruzado, com a substituição do cruzeiro pela nova moeda corrente no Brasil, o cruzado (obtido com a eliminação de três zeros das notas de cruzeiros e a introdução do símbolo CZ$).
O Plano trazia a desindexação da Economia, com a substituição da correção monetária pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e o congelamento de preços e salários. O ministro Dílson Funaro dirigiu e João Sayad acompanhou o grupo que trabalhou na elaboração do Plano, composto entre outros por:
- Pérsio Arida, assessor do Ministério do Planejamento.
- Andréa Calabi, assessor do Ministério do Planejamento.
- Luís Gonzaga Belluzzo, chefe da Assessoria Econômica do Ministério da Fazenda.
- João Manuel Cardoso de Melo, assessor especial de Dílson Funaro.
- Fernão Bracher, presidente do Banco Central (BC).
- Edmar Bacha, presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
- Francisco Lopes, assessor especial de Sayad.
- Economista André Lara Resende, do Banco Central.
Diante de problemas com o abastecimento dos produtos e o crescente descumprimento das tabelas e listas de preços congeladas com a cobrança de ágio, a diferença a mais paga sobre o preço tabelado, o governo lançou em julho um novo pacote de medidas. As equipes de Sayad e Funaro apresentaram o que foi chamado de “poupança compulsória”, percentuais de 25 a 30% que passariam a incidir sobre duas categorias de produtos — gasolina e álcool e o comércio de carros — e aumentaram em 25% as passagens aéreas internacionais.
O presidente Sarney anunciou as medidas explicando que as receitas geradas pelo empréstimo compulsório seriam destinadas ao recém-criado Fundo Nacional de Desenvolvimento (FND), preparado por João Sayad. O objetivo era a aplicação de cem bilhões de dólares em investimentos sociais e a fundo perdido, como a distribuição gratuita de leite a crianças carentes, e em obras de infraestrutura pública nas áreas de energia, aço, transportes e comunicações, para possibilitar o aumento na produção das indústrias.
Entretanto, com o problema de desabastecimento de carne cada vez mais grave, as primeiras desavenças entre a equipe econômica do governo começaram a surgir. Enquanto o ministro Dílson Funaro anunciava acordos feitos com os pecuaristas e até medidas drásticas para retirar o gado das fazendas, o ministro Sayad afirmava que tal procedimento seria inútil e não resolveria a questão. Os pontos de vista de Funaro e Sayad não convergiam, o que dificultava a definição das mudanças no Plano Cruzado. Em outubro, Sayad voltou a discordar da necessidade de cortes nos gastos públicos, exatamente o contrário do que o ministro Funaro afirmava.
Apesar da falta de consenso entre a equipe econômica, logo após as eleições de 15 de novembro de 1986 novas medidas foram anunciadas para conter a demanda, que continuava crescendo num ritmo maior do que a capacidade de produção das indústrias. Com a vitória do PMDB nas urnas, Funaro e Sayad anunciaram o pacote econômico que trouxe aumentos de 100% (cerveja e cigarro), 80% (carros novos) e 60% (gasolina e álcool) e um novo índice de inflação, o Índice de Preços ao Consumidor Restrito (IPCR), e no qual só seriam computadas as variações de preços nos itens de transporte, alimentação e moradia. No entanto, os entendimentos do ministro do Trabalho, Almir Pazzianotto, com os sindicalistas, em torno de um pacto social, derrubaram o novo índice defendido por Funaro e Sayad.
Meningite - Acometido de meningite em fevereiro de 1987, João Sayad afastou-se por duas semanas do Governo, tornando-se cada vez mais um estranho na equipe econômica. De volta ao trabalho em março, durante viagem do ministro Funaro ao Exterior, Sayad apresentou ao presidente Sarney um plano de estabilização da economia propondo um novo choque, congelamento e o fim do gatilho salarial. Consultado sobre o assunto, Funaro foi contra. Desgastado, Sayad pediu demissão em março.
Ainda em 1987, retornou à função de professor da FEA/USP. Em maio de 1988, assumiu o cargo de presidente do Banco SRL S.A., instituição que fundou em São Paulo com Philippe Reichstul e Francisco Luna para financiamentos de comércio exterior, financiamento e consultoria para empresas, mercado de capitais e gerenciamento de investimentos.
Relatório Sayad - João Sayad foi o criador do Relatório Sayad, feito sob encomenda do Governo do Rio Grande do Sul para ser uma bússola que norteasse a solução dos problemas locais. No fim da década de 1980, a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (FIERGS) encomendou o Relatório Sayad, através da contratação da consultoria de João Sayad. O objetivo era de realizar um diagnóstico do setor público do Estado do Rio Grande do Sul. Em janeiro de 1989, a entidade lançou um documento baseado nesse diagnóstico, intitulado Rio Grande do Sul: eficácia na administração — avaliação do setor público.
Articulista - Em março de 1993, tornou-se articulista do jornal Folha de São Paulo, escrevendo artigos na coluna “Opinião Econômica”.
Em 1993, em Seminário sobre Reforma Fiscal realizado em São Paulo, recomendou que o governo do presidente Itamar Franco (1992-1994) desse prioridade à redução da inflação, para então promover uma reforma fiscal. A reforma deveria definir uma forma de financiamento da previdência social, discutir os incentivos fiscais ao Nordeste para torná-los produtivos, concentrar-se nos tributos sobre o valor agregado e imposto de renda, assim como buscar “uma sociedade mais justa mediante a incorporação, dentro de alguns anos, de um imposto sobre heranças”.
75 anos - João Sayad nasceu em São Paulo, em 10 de outubro de 1945, filho de Luís Sayad e Iolanda Sayad. Morreu neste domingo (5 de setembro de 2021).
Com informações da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
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