O fotógrafo Evandro Teixeira morreu nesta segunda-feira (4/11/2024), no Rio de Janeiro, aos 88 anos de idade, mais de 70 deles dedicados ao fotojornalismo. Pelas suas lentes, foram registrados acontecimentos históricos do século XX no Brasil e no mundo. As imagens em preto e branco produzidas por Evandro viraram documentos, que ajudam a acessar fragmentos do passado.
Evandro estava internado na Clínica São Vicente, Gávea, Zona Sul da cidade. Segundo a instituição, a morte ocorreu por falência múltipla de órgãos, em decorrência de complicações de uma pneumonia. Ele será velado na Câmara dos Vereadores nesta terça-feira (05), das 9h às 12h.
O fotógrafo nasceu no município de Irajuba, na Bahia, em 1935. Ele iniciou a carreira jornalística em 1958 no jornal O Diário de Notícias, de Salvador. Depois, transferiu-se para o Diário da Noite, do grupo dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, no Rio de Janeiro.
Em 1963, foi contratado pelo Jornal do Brasil, onde alcançaria a maior projeção como fotojornalista. Foram quase 47 anos na empresa, de onde saiu em 2010, quando o JB deixou de circular na versão impressa e passou a ter apenas a edição digital. Ele também se tornou autor dos livros: Fotojornalismo (1983); Canudos 100 anos (1997); e 68 destinos: Passeata dos 100 mil (2008).
Dificilmente alguém nunca se deparou com uma foto de Evandro ao pesquisar sobre eventos marcantes da história. Ele registrou momentos como a Copa do Mundo de 1962, a repressão ao movimento estudantil de 1968, o golpe militar no Brasil e no Chile e o massacre de Jonestown, em 1978.
É dele a imagem da tomada do Forte de Copacabana, no dia 1º de abril de 1964, que mostra as silhuetas de soldados em meio a uma chuva torrencial. Símbolo dos anos difíceis que o país atravessaria sob governos autoritários. E a fotografia, ainda mais conhecida, de um estudante caindo no chão, enquanto dois policiais se preparam para atacá-lo, em meio às manifestações contra a ditadura no dia 21 de junho de 1968.
As obras de Evandro integram coleções de instituições como o Museu de Arte de São Paulo (Masp), o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) e o Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro.
Cobertura Internacional: No ano passado, o Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, exibiu uma mostra com 160 imagens do fotógrafo. O destaque era a cobertura internacional do golpe militar no Chile, que completava 50 anos. Evandro conseguiu entrar na capital Santiago no dia 21 de setembro de 1973, dez dias depois do golpe liderado pelo general Augusto Pinochet, que encerrou o governo democrático do socialista Salvador Allende.
Mesmo com toda a vigilância, Evandro registrou imagens que atestavam a violação de direitos humanos no país. No Estádio Nacional, driblou a vigilância dos soldados e fotografou o porão onde estudantes eram encarcerados com violência. A imagem foi revelada rapidamente em um laboratório improvisado no banheiro do hotel e transmitida para o Brasil por um aparelho de telefoto.
Em outro momento, conseguiu ser o primeiro a registrar a morte de Pablo Neruda. O fotógrafo entrou no hospital onde estava o corpo do poeta por uma porta lateral, sem ser notado pelos seguranças. Encontrou Neruda sendo velado em uma maca no corredor pela viúva Matilde Urrutia. Depois, com a permissão da família, acompanhou todos os passos do velório na residência do casal e o enterro no Cemitério Geral de Santiago.
Mas foi um acontecimento, em tese mais simples do que os anteriores, que levou Evandro a passar uma noite na prisão. E que atesta não só as qualidades técnicas do fotógrafo, mas o olhar apurado para as desigualdades sociais.
- Faltava carne de vaca para a população, que só comia galinha e porco. Eu estava andando pela cidade e passei em frente ao Ministério da Defesa. Vi um carro de açougueiro parado e um cidadão entrar com um boi inteiro nas costas para o pessoal do quartel. Achei uma sacanagem e fiz a foto”, relatou Evandro à época.
Nota de Pesar: O presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou hoje uma nota de pesar pela morte de Evandro Teixeira, a quem Lula considera referência no fotojornalismo do Brasil e do mundo.
“Evandro deixa um acervo de mais de 150 mil fotos, com imagens que fazem parte da história do Brasil. Cobriu posses presidenciais, registrou a fome, a pobreza, esportes, personalidades e a cultura do nosso país. Meus sentimentos aos familiares, amigos, colegas e admiradores de Evandro Teixeira”, disse Lula, lembrando os mais de 70 anos de carreira do fotógrafo e a emblemática foto da tomada do Forte de Copacabana, de 1964.
“Evandro deixa um acervo de mais de 150 mil fotos, com imagens que fazem parte da história do Brasil. Cobriu posses presidenciais, registrou a fome, a pobreza, esportes, personalidades e a cultura do nosso país. Meus sentimentos aos familiares, amigos, colegas e admiradores de Evandro Teixeira”, disse Lula, lembrando os mais de 70 anos de carreira do fotógrafo e a emblemática foto da tomada do Forte de Copacabana, de 1964.
Fotojornalista Jarbas Oliveira: O amigo Evandro se foi. Um operário da imagem, como gostava de brincar com ele. Eternizou Grandes momentos da nossa história recente dando luz e visibilidade a fatos que tentaram apagar da nossa história. É impossível falar de Fotojornalismo Brasileiro sem citar a imensa obra, o legado e a inspiração de Evandro Teixeira. Uma inspiração pra mim e uma Fonte inesgotável e referência máxima de uma legião de fotógrafos por cada canto deste país. O maior Fotojornalista da história do Fotojornalismo brasileiro. Ficamos muito próximos na cobertura da Copa de 1998 na França. Nos Hospedamos no mesmo Hotel, no mesmo andar. Os quartos um de frente para o outro. Uma convivência de mais de 40 dias. Fizemos muitas pautas extra campo juntos por Paris. Fotografar, Revelar (ainda usávamos filmes), escanear e enviar para o Brasil sempre com conversas e coisas engraçadas. Certa vez o encontrei no meio da Caatinga quando do sequestro de Dom Aloisio Lorscheider aqui no Ceará, eu pela Folha de São Paulo e ele pelo Jornal do Brasil (JB). Evandro já estava com um familiar de um dos sequestradores que fugiram pelo mato. Era elétrico, gostava muito do que fazia. Era incansável. Um apaixonado pelo Fotojornalismo e pelo Brasil. E Isso me motivava muito. É autor de de vários livros e das mais icônicas Fotografias de nossa história. Sempre conversávamos por telefone. A última vez entre final de agosto/inicio de setembro. Uns 40 minutos de conversas, coisas engraçadas e novos projetos. Tinha o desejo de levar a Exposição ‘Evandro Teixeira. Chile 1973’ para outros Estados. Queria trazer aqui para Fortaleza. Passei uns contatos para ele. Me pediu uma rede de dormir. Eu disse que não iria mandar para ele no Rio de Janeiro, mas levar em novembro e visitá-lo. Terminou com o jeito Evandro de falar: “não esquece a minha rede poorrra”. Obrigado Evandro Teixeira por toda sua dedicação ao Fotojornalismo. Obrigado pela amizade e pela inspiração! Que vá na Luz!
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