Informa o jornal O Globo:
Ricardo Guilherme: Morre hoje no Rio de Janeiro nosso Aderbal Freire-Filho, cearense cosmopolita ator, diretor, dramaturgo, homem de rádio e TV, professor de direção, encenador premiadíssimo, um dos mais imprescindíveis pensadores do Teatro Contemporâneo, referência não apenas no Brasil mas em vários países da Latino-América.
Como teórico da Encenação criou, além de coletivos de criação, conceitos e praxis . Por exemplo, a proposição do Romance em Cena que sem a intermediação de qualquer processo adaptativo teatraliza a literatura. E assim incorporou ao modus faciendi da representação o tonus épico, mesmo durante alguns desempenhos em ação dramática. Seria uma espécie de imbricação das idéias de representar e apresentar as personagens.
Mas seja nesta ou em outras propostas, a superestrutura cênica que alicerça as direções de Aderbal é a de um Teatro que não se deixa reger pela lógica da plausibilidade, da verossimilhança, mas por uma teatro-lógica, a experiência de um teatro com cenas de teatro explícito, um teatro teatral. Para Aderbal um objeto em cena adquire o significado que lhe vier a ser emprestado pela ação do ator. A utilização que o ator faz do objeto dá a esse objeto uma dimensão ficcional. As suas encenações criam imagens que causam interesse porque convocam o espectador a imaginar. Subsidiam a plateia para que o espectador se transforme em espectador-artista. Aderbal entende que toda obra de arte é imperfeita no sentido de que é o espectador quem a completa. Afinal, a arte não está na figura que o olhar observa nem no olhar que observa. A arte está no meio, no entremeio, entre. E a inventiva do Teatro, portanto, se quer permeável, fertilizável pela inventividade de quem vê, o Teatro, enfim, se quer Teatra".
Morreu nesta quarta-feira (9 de agosto de 2023), aos 82 anos, o diretor de teatro Aderbal Freire-Filho (foto Marcos Ramos). A informação foi confirmada por familiares em contato com O Globo. Ele sofria complicações no estado de Saúde desde 2020, quando sofreu um AVC hemorrágico, e estava internado no Hospital Copa Star, no Rio.
Nascido em Fortaleza, em 8 de maio de 1941, Aderbal começou a carreira artística já aos 13 anos, atuando em grupos amadores e semi-profissionais de teatro. Formou-se em Direito na capital cearense, mas não chegou a exercer a profissão. Em 1970, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde fez sua estreia como ator em “Diário de um louco”, de Nikolai Gogol, encenando a obra dentro de um ônibus que percorria as ruas da cidade.
Como diretor teatral, ficou conhecido por sua ousadia experimental e suas montagens pouco tradicionais. Sua estreia nesta função foi em 1972 com a peça “O cordão umbilical”, de Mário Prata, e seu primeiro grande sucesso veio um ano depois, na direção do monólogo de Roberto Athayde, “Apareceu a Margarida”, estrelado por Marília Pêra.
Em 1973, fundou o Grêmio Dramático Brasileiro, experiência em que montava simultaneamente, com o mesmo elenco num cenário único, peças nacionais, entre elas “Um visitante do alto", "Manual de sobrevivência na selva”, também de Roberto Athayde, “Pequeno dicionário da língua feminina” e “Réveillon”, de Flávio Márcio.
Aderbal foi um defensor da integração do teatro brasileiro com os de países da América do Sul e passou os últimos anos encenando peças entre o Brasil e o Uruguai. Em 2018, recebeu, inclusive, o título de visitante ilustre pela Câmara Municipal de Montevidéu. Desde a década de 1980, montava espetáculos na Argentina, Colômbia, entre outros. A peça "Mão na luva”, de Oduvaldo Vianna Filho, foi vencedora, no Uruguai, do Prêmio Florencio de melhor espetáculo estrangeiro em 1985.
Shakespeare e prêmio Shell: Na virada da década 1980, Aderbal se estabeleceu no Teatro Glaucio Gill, até então desativado, com uma companhia de teatro. Estreou em 1990 com “A mulher carioca aos 22 anos”. No local, também encenou peças de grandes figuras nacionais, como “O tiro que mudou a História”, sobre Getúlio Vargas, e “Tiradentes, inconfidência no Rio”, sobre o conspirador mineiro. Em 1994, o governo do Estado do Rio expulsou a companhia do teatro.
Desde então, Freire encenou suas obras em diversos outros teatros pela cidade, em adaptações de Vinicius de Moraes e clássicos de Shakespeare, como "Macbeth" e “Hamlet”, este último estrelado pelo ator Wagner Moura.
Após mais de uma década fora dos palcos, em 2011, voltou a atuar no espetáculo “Depois do filme”, que também dirigiu e escreveu. Em 2013, recebeu o Prêmio Shell de Teatro na categoria Melhor Diretor pela montagem da peça "Incêndios", que tinha Marieta Severo como protagonista.
Em 2017, como conselheiro, lutou pela sobrevivência da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, a Sbat, que passava por crise financeira, classificando a associação de autores como "pioneira nas Américas”.
Além de ator e diretor, Aderbal foi apresentador, de 2012 a 2016, do programa “Arte do Artista”, na TV Brasil. Também seguiu com sua vida acadêmica: foi professor na Casa das Artes de Laranjeiras, na Escola de Teatro Martins Pena e na Faculdade de Letras da UFRJ, além de coordenar um curso de pós-graduação lato sensu na Escola de Comunicação da UFRJ.
Era casado desde 2004 com a atriz Marieta Severo e deixa um filho, Camilo.
Nascido em Fortaleza, em 8 de maio de 1941, Aderbal começou a carreira artística já aos 13 anos, atuando em grupos amadores e semi-profissionais de teatro. Formou-se em Direito na capital cearense, mas não chegou a exercer a profissão. Em 1970, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde fez sua estreia como ator em “Diário de um louco”, de Nikolai Gogol, encenando a obra dentro de um ônibus que percorria as ruas da cidade.
Como diretor teatral, ficou conhecido por sua ousadia experimental e suas montagens pouco tradicionais. Sua estreia nesta função foi em 1972 com a peça “O cordão umbilical”, de Mário Prata, e seu primeiro grande sucesso veio um ano depois, na direção do monólogo de Roberto Athayde, “Apareceu a Margarida”, estrelado por Marília Pêra.
Em 1973, fundou o Grêmio Dramático Brasileiro, experiência em que montava simultaneamente, com o mesmo elenco num cenário único, peças nacionais, entre elas “Um visitante do alto", "Manual de sobrevivência na selva”, também de Roberto Athayde, “Pequeno dicionário da língua feminina” e “Réveillon”, de Flávio Márcio.
Aderbal foi um defensor da integração do teatro brasileiro com os de países da América do Sul e passou os últimos anos encenando peças entre o Brasil e o Uruguai. Em 2018, recebeu, inclusive, o título de visitante ilustre pela Câmara Municipal de Montevidéu. Desde a década de 1980, montava espetáculos na Argentina, Colômbia, entre outros. A peça "Mão na luva”, de Oduvaldo Vianna Filho, foi vencedora, no Uruguai, do Prêmio Florencio de melhor espetáculo estrangeiro em 1985.
Shakespeare e prêmio Shell: Na virada da década 1980, Aderbal se estabeleceu no Teatro Glaucio Gill, até então desativado, com uma companhia de teatro. Estreou em 1990 com “A mulher carioca aos 22 anos”. No local, também encenou peças de grandes figuras nacionais, como “O tiro que mudou a História”, sobre Getúlio Vargas, e “Tiradentes, inconfidência no Rio”, sobre o conspirador mineiro. Em 1994, o governo do Estado do Rio expulsou a companhia do teatro.
Desde então, Freire encenou suas obras em diversos outros teatros pela cidade, em adaptações de Vinicius de Moraes e clássicos de Shakespeare, como "Macbeth" e “Hamlet”, este último estrelado pelo ator Wagner Moura.
Após mais de uma década fora dos palcos, em 2011, voltou a atuar no espetáculo “Depois do filme”, que também dirigiu e escreveu. Em 2013, recebeu o Prêmio Shell de Teatro na categoria Melhor Diretor pela montagem da peça "Incêndios", que tinha Marieta Severo como protagonista.
Em 2017, como conselheiro, lutou pela sobrevivência da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, a Sbat, que passava por crise financeira, classificando a associação de autores como "pioneira nas Américas”.
Além de ator e diretor, Aderbal foi apresentador, de 2012 a 2016, do programa “Arte do Artista”, na TV Brasil. Também seguiu com sua vida acadêmica: foi professor na Casa das Artes de Laranjeiras, na Escola de Teatro Martins Pena e na Faculdade de Letras da UFRJ, além de coordenar um curso de pós-graduação lato sensu na Escola de Comunicação da UFRJ.
Era casado desde 2004 com a atriz Marieta Severo e deixa um filho, Camilo.
Como teórico da Encenação criou, além de coletivos de criação, conceitos e praxis . Por exemplo, a proposição do Romance em Cena que sem a intermediação de qualquer processo adaptativo teatraliza a literatura. E assim incorporou ao modus faciendi da representação o tonus épico, mesmo durante alguns desempenhos em ação dramática. Seria uma espécie de imbricação das idéias de representar e apresentar as personagens.
Mas seja nesta ou em outras propostas, a superestrutura cênica que alicerça as direções de Aderbal é a de um Teatro que não se deixa reger pela lógica da plausibilidade, da verossimilhança, mas por uma teatro-lógica, a experiência de um teatro com cenas de teatro explícito, um teatro teatral. Para Aderbal um objeto em cena adquire o significado que lhe vier a ser emprestado pela ação do ator. A utilização que o ator faz do objeto dá a esse objeto uma dimensão ficcional. As suas encenações criam imagens que causam interesse porque convocam o espectador a imaginar. Subsidiam a plateia para que o espectador se transforme em espectador-artista. Aderbal entende que toda obra de arte é imperfeita no sentido de que é o espectador quem a completa. Afinal, a arte não está na figura que o olhar observa nem no olhar que observa. A arte está no meio, no entremeio, entre. E a inventiva do Teatro, portanto, se quer permeável, fertilizável pela inventividade de quem vê, o Teatro, enfim, se quer Teatra".
Secult.Ce-É com profundo pesar que a Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará) recebe a notícia do falecimento do diretor de teatro Aderbal Freire Filho nesta quarta-feira (9).
Um gênio do teatro, Aderbal foi o fundador do Grêmio Dramático Brasileiro, em 1973, e do Centro de Demolição e Construção do Espetáculo (CDCE), em 1989. O diretor assina, entre outros, as obras “Apareceu a Margarida”, “A Morte de Danton”, “A Mulher Carioca aos 22 Anos” e “Tiradentes”.
Cearense radicado no Rio de Janeiro, Aderbal participou, em 2018, do Seminário “Cultura, Democracia e Liberdade”, realizado pela Secult Ceará no Theatro José de Alencar.
Como diretor, o artista aliou a busca constante por novas formas de teatralismo a uma encenação que priorizava o ator como agente principal da linguagem e da comunicação das idéias do texto.
Seu legado permanece gravado na história do teatro brasileiro.
A Secult Ceará se solidariza com a família, os amigos e o público desse grande artista.
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