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Futricas Gastronômicas

Fé, Festa e Gastronomia celebram Iemanjá no Rio Vermelho. As homenagens se consolidaram na Bahia há 103 anos e se tornaram a maior festa do Brasil dedicada à Rainha do Mar.

O cheiro das flores e o cheiro do mar disputam espaço na Casa do Peso do Rio Vermelho, enquanto outra disputa acontece ao lado de fora, com as filas quilométricas, que começam bem cedo e enchem o local de azul e branco para ver o principal presente. A multidão que se amontoa na casa dos pescadores transforma o espaço no centro das atenções.

Assim é a Festa de Iemanjá, consolidada como festejo há 103 anos, crescendo em proporções jamais imaginadas pelos pescadores pioneiros. Em nenhum lugar do mundo há uma celebração como essa, considerando que a festa tem origem no Candomblé, que cultua o Orixá. Mas, mesmo em várias partes do Brasil, Iemanjá não é tão venerada como ocorre no Rio Vermelho.- “A Mãe d’Água não é cultuada somente em Salvador. Ela é cultuada em outras partes do Brasil, mas em uma escala muito reduzida, não tem a popularidade que tem aqui. Mas todas as atenções se voltam mais para a Bahia, que abriga o maior festejo de todos”, conta o professor de história Murilo Mello, especialista em histórias da Bahia.

À beira dos acontecimentos neste pedaço do Rio Vermelho, nas casas, nos bares do entorno, outros cheiros se misturam à festa. São os comes e bebes, regados a bebidas, saudando a Rainha. Desde o Acarajé e o Abará, passando pelas feijoadas – um dos acepipes mais celebrados no roteiro do Rio Vermelho nesta época de verão –, até as moquecas, que combinam com o sabor do mar.

Na Casa da Mãe, Stella Maris – cantora, compositora, chef de cozinha e filha de Iemanjá – celebra em um privilegiado espaço, bem em frente à Casa do Peso, saudando a Rainha do Mar. Nas panelas da chef, borbulha um delicioso e disputado feijão, além dos famosos caldos e moquecas.

Bem próximo dali, outra filha de Iemanjá, Tereza Paim, celebra a Rainha em meio às flores e praticando a paz. Ela vai se dividir, mais uma vez, entre os festejos de 2 de fevereiro, saudando com devoção o dia de Iemanjá. O dia começa cedo, com um reforçado café da manhã no domingo, na tradicional "Barraca de Tereza", que funcionará das 6 às 12 horas, do lado de fora do restaurante Casa de Tereza e também da Casa Bohemia Salvador - Boteco da Tetê. Ambas as casas estão localizadas no berço da Rainha do Mar, sendo parada obrigatória dos devotos de Iemanjá.

- Uma bênção grandiosa pra mim, que escolhi morar e empreender no bairro das águas de Iemanjá. Só tenho a agradecer. Vamos à Barraca de Tereza, bem cedinho, garantir aquela sustância necessária", afirma Tereza.

Comida não falta nesse pedaço do mundo contemporâneo e festivo. Também não faltam histórias para contar. Por trás de todos os louvores à Orixá, há uma população inteira a saudar Iemanjá, cuja história guarda muitas curiosidades. Para quem quer entender a festa, é preciso conhecer ou lembrar a sua origem, contada de muitas maneiras.

No início, havia uma manifestação tímida de saudação a Iemanjá. A paróquia erguida para Nossa Senhora de Santana ficava em um largo, quando o Rio Vermelho era apenas um arrabalde distante, e as visitas de um pároco aconteciam de forma esporádica.

Com o veraneio da classe média e alta no local, os festejos de Nossa Senhora de Santana passaram a ser organizados por esse público, quando era realizada uma novena. Era no meio dessa novena que a Rainha do Mar era festejada.

- Os pescadores aproveitavam na segunda-feira [durante a novena] ecolocavam os presentinhos para Iemanjá. Não havia uma procura tão grande para a entrega de presentes”, conta Mello.

Quando a Região do Rio Vermelho cresceu, a igreja de Nossa Senhora de Santana foi deslocada para a beira do mar. Isso ocorreu por volta de 1913. Os festejos foram consolidados com a ajuda da classe média alta. Foi nessa ocasião que o padre, que passou a ter residência fixa na região, acabou tendo um desentendimento com os pescadores.

- O padre vai professar uma missa e não será tão gentil com os pescadores. Ele falará de maneira jocosa, dizendo que eles [os pescadores] cultuavam alguém com um rabo de peixe. Os pescadores se sentiram ofendidos e decidiram fazer o festejo sem a supervisão da Igreja e sem o consentimento do padre. A partir desse rompimento, a festa passou a acontecer em outro dia”.

Com a ruptura e a oficialização da festa para 2 de fevereiro, em 1959, os pescadores construíram um barracão de madeira – a atual Casa do Peso –, de onde saem os presentes para Iemanjá até hoje. Nos primórdios da celebração oficial da festa, depois do rompimento com a Igreja, a celebração contou com a participação de Jorge Amado e, com o tempo, ganhou proporções gigantescas, transformando-se no evento popular que conhecemos hoje.

- Essa popularidade começou, sobretudo, com Jorge Amado, Caetano Veloso e Dorival Caymmi, além de outras celebridades que passaram a participar e divulgar essa liturgia simples dos pescadores. Foi no final da década de 1950 que a festa ganhou maior notoriedade", explica Mello.

Mas a festa se consolidou de vez quando, durante um período de escassez no mar, cem anos após o rompimento com a Igreja, os pescadores receberam um aviso divino. O ano era 1923.

- Uma senhora, cem anos depois, disse aos pescadores que era preciso presentear a Rainha do Mar, a Mãe d’Água. O nome ainda não era Iemanjá, mas sim Mãe d’Água. Eles não sabiam como fazer, então buscaram orientação com a mãe de santo Júlia do Bogum, que os ensinou os preceitos da liturgia e como deveriam fazer exatamente. Depois disso, houve uma fartura de peixe. E, desde então, se tornou uma tradição forte homenagear a Rainha do Mar no dia 2 de fevereiro”, relata Mello.

Esse episódio consolidou a ligação do culto a Iemanjá com o candomblé. Hoje, a festa cresceu exponencialmente, repetindo-se ano após ano, com flores, pedidos e presentes. A fé em Iemanjá segue viva no coração do povo baiano.

E para festejar Iemanjá, Murilo Mello resolveu fazer aquela deliciosa moquequinha com um toque especial: no fogão à lenha! E viva a Rainha do Mar!

Receita de Moqueca de Camarão-Ingredientes

  • Meio quilo de Camarão médio
  • Suco de 1 limão
  • 1/2 xícara de café de Azeite de Dendê
  • 2 cebolas médias cortadas em rodelas
  • 1 maço de Coentro
  • 2 Cebolinhas Verdes cortadas
  • 1 Tomate cortado em rodelas
  • Sal a gosto
  • 1 vidro de Leite de Coco

Modo de preparo

1. Limpar os camarões e temperar com sal e o suco de limão

2. Reserve

3. Refogue todos os temperos por 15 minutos no azeite-de-dendê

4. Acrescente os camarões e cozinhe por 10 minutos com a panela tampada

5. Por último, acrescente o leite de coco

6. Leve mais uns minutinhos e desligue o fogo

A porção é para duas pessoas !

@isabel _qoliveira

belaoliveira2729@gmail.com

Isabel Oliveira (Facebook)

Foto Uendel Galter/Agência A Tarde).


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