Quem cuida de quem cuida?
Assistente social da Hapvida fala sobre os desafios de cuidar e dá dicas de como não se esquecer de si em meio a rotinas intensas de zelar pelo outro.
O processo de adoecimento decorrente de ser acompanhante ou, muitas vezes, único cuidador de alguém doente começa, em inúmeros casos, já no momento do diagnóstico, de acordo com a assistente social Bruna Clementino Queiroz, que atua no Hospital Antônio Prudente, em Fortaleza, há mais de 16 anos. Internações constantes, tratamentos longos e limitadores, nível relevante de dependência, nova adaptação na rotina familiar, inseguranças emocionais… Não é fácil imergir em um momento da vida de quem se ama que exige maior dedicação com a saúde. Com a experiência de quem não somente orienta, mas já esteve como cuidadora dos pais, vitimados por doenças graves, Bruna sabe, que é preciso cultivar o equilíbrio para sustentar e sobreviver. A profissional traz considerações importantes para cuidadores.
De acordo com Bruna Queiroz, o público mais impactado como cuidador, nas emergências hospitalares - escopo de atuação da profissional, são os familiares de pacientes com doenças oncológicas e psiquiátricas, independente da faixa etária do paciente. “Quase 90% dos cuidadores são público feminino, como esposa, mãe, irmã, neta, sobrinha, noiva, namorada”, complementa a assistente social. Ela destaca, que é comum o cuidador anular-se, ignorando sua individualidade e entregando-se aos estresses do dia a dia, sem descansos, o que acarreta esgotamento físico, emocional e mental.
Ela conta, que, diante de diagnósticos delicados, é importante, que o cuidador, desde cedo, se cerque de encaminhamentos e de decisões, que vão ajudá-lo a ter mais controle físico e emocional de si próprio, ao longo de todo o processo de tratamento do paciente. Bruna cita abaixo alguns cuidados consigo, quando cuidador, que precisam ser mantidos ou cultivados:
- Descansar, sempre, que possível;
- Buscar ajuda. Identificar na rede de amigos e de familiares quem pode dividir alguns instantes desse cuidado com você, para que você possa tomar um banho mais longo, fazer uma caminhada no início da manhã, tomar um banho de mar, tomar um café com um amigo. O ideal é que essa divisão seja regular, mas a ajuda eventual também vale muito;
- Adaptar horários e algumas atividades ao dia a dia do cuidador é fundamental e não significa abandonar para sempre as rotinas de que você gosta. Lembre-se: vai passar;
- Se não puder ficar distante, buscar atividades, que distraiam a mente, como as manuais: pintar; costurar; fazer tricô, crochê ou bordado; ler, escrever, ouvir música podem ajudar;
- Fazer atividades físicas regulares é sempre importante. Se não puder sair para praticar, veja opções de aulas, que possam ser acompanhadas pelo computador ou celular;
- Trabalhar a espiritualidade, de acordo com o que se acredita;
- Fazer passeios, que possibilitem maior contato com a natureza, como visitar parques e florestas urbanas da cidade. Se puder fazer isso com o paciente, pode também ser muito benéfico;
- Confiar no tratamento, bem como nos profissionais, que o estão conduzindo, sem deixar de cercar-se do máximo de informações e de estar ciente de todo o processo;
- Não descuidar da alimentação. Não abra mão de refeições importantes, como café da manhã, almoço e jantar;
- Fazer acompanhamento psicológico, quando possível;
- Evitar os excessos nas redes sociais.
A assistente social da Hapvida reforça, que é comum na jornada de cuidados com o outro que redes de apoio não planejadas possam surgir, que amigos sumam e novos relacionamentos se estabeleçam, que a espiritualidade seja fortalecida, que atividades de rotina se tornem refúgios, que espaços e pessoas, que dividem a profissão façam parte de momentos de acolhimento. E importante: é possível, que a finitude chegue, como chegou para os pais da assistente social Bruna.
- A finitude palpável é assustadora no começo, mas faz a gente refletir sobre o que de fato é importante. Faz a gente ser mais seletivo com o que e com quem precisamos estar/fazer algo. Ensina a gente a relevar e a perdoar. E diante de tudo que aprendi, enquanto cuidadora familiar, carrego a gratidão aos que estiveram comigo”, compartilha Bruna Queiroz.
Em todas as situações, Bruna reitera, que não dá para fugir das dores, já que elas fazem parte da vida. A assistente social acredita, que estar consciente sobre todo o processo e estar o melhor que puder consigo mesmo ajuda a superar e a viver o que precisa ser vivido com o outro e pelo o outro, inclusive, o luto.
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