Jornalista e professora Lígia Sales - Fizemos 1 mês, que chegamos no Canadá. Nem em sonho (ou pesadelo) poderia imaginar como seria, de fato, viver o novo de novo. Dizem que todos os desafios deste primeiro mês fazem parte do ato de recomeçar. Mas fiquei pensando sobre o conceito e acho, de verdade, que não existe tal coisa: recomeçar. Ao meu ver a palavra implica num devaneio de que, por um instante, pudéssemos parar o mundo e começar de novo o que não deu certo ou o que gostaríamos de mudar. O problema (ou solução) é que não dá pra voltar atrás e começar de novo. No fundo, eu e você sempre soubemos disso e por isso mesmo é que dói fazer escolhas, partir para novos caminhos e pagar pra ver. Há 1 mês estamos iniciando um novo e importante capítulo em nossas vidas. Largamos o aparentemente certo pelo duvidoso. Duvidamos quando nos disseram: "vocês sabem que não vão conseguir essa bolsa de estudo. São 3 vagas pro mundo todo". E aqui abro parêntese para escrever no plural porque, de fato, essa conquista foi nossa. Da nossa família. Rodrigo esteve diretamente envolvido inúmeras vezes me ajudando a traduzir documentos, pesquisar livros que eu pedia.... Também colocamos um ponto de interrogação quando debocharam dos nossos planos, riram da possibilidade de sermos entregadores de pizza, ganhando em dólar e que tudo isso era loucura. Pois é. Estamos aqui, pagando pra ver. Assumindo as dores, riscos, saudades, perdas de cada escolha que fizemos. Mas também cientes e agradecidos por cada pequena conquista que temos tido. Quando dizem que não é fácil imigrar geralmente evitam entrar nos detalhes da questão. Mas a verdade é que viver num País que você não entende a piada dos anos 1990, não sabe das tretas locais, dos memes e nem compartilha da Cultura local é difícil mesmo e ponto. Por isso, perguntar se estamos gostando, agora, não faz muito sentido. Tem dias bons e dias ruins. Como os seus dias por aí também. A diferença é que resolvemos pegar um vôo de 24 horas com 7 malas e dar uma chacoalhada no destino. A pergunta certa é: tá fazendo sentido pra você E já te respondo: amigo, há 42 anos não faz sentido nenhum, por que aqui faria? É isso, gente. Another day, another dollar. Amém?
Primeiro de setembro - O dia foi intenso e um milhão de informações rondam minha cabeça neste momento. Foi oficialmente meu primeiro dia na universidade e a programação para hoje incluía orientações sobre o programa de doutorado, mas também treinamento para meu trabalho como T.A. ( teaching assistant). Na primeira parte da manhã estava nervosa, todos de máscara nas salas de aula, era difícil ouvir e entender o que algumas pessoas falavam. No almoço consegui conversar com duas alunas novas do mestrado, mas os outros 3 colegas do doutorado que estavam ali começando comigo não falaram nenhuma palavra e nem pareciam abertos para conversar. Ok. No problem. Na segunda etapa do treinamento foi melhor pq pude conhecer pessoalmente a Jessica, uma mexicana do 5 ano do phd que foi muito receptiva comigo há alguns dias, por email, oferecendo até a casa dela pra minha família ficar se eu não encontrasse lugar para alugar. E aí, felizmente, match. Os santos bateram e adorei ela e o namorado Luís, no ultimo ano do doutorado. Tivemos um happy hour oferecido pelo Departamento de Pós Graduação no Pub que fica dentro do Campus da Universidade. Muito bom! Conheci ali mais duas peruanas, uma delas vai ser uma espécie de mentora no meu trabalho, muito legal e paciente. Por fim, ela. A mulher que eu vasculhei toda a bibliografia, artigos, li a tese toda do doutorado... Professora Selina Mundavanhu. Conheci, conversamos um pouco tanto sobre o trabalho quanto sobre a orientação do doutorado. Sai da conversa com um sorriso imenso.



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