Sergio Ripardo está em Bixiga, Bela Vista.· São Paulo ·
{dia de finados, lembrança triste} "Quando vc vai voltar a trabalhar? Não demore. Sua mãe está preocupada". Essas foram as últimas frases q ouvi do meu pai antes de morrer. Ele fechou os olhos com uma lembrança de um "filho fracassado", um looser, que estava há dois anos sem emprego, morando na casa da mãe, aos 37 anos de idade, gay, solteiro, sem dinheiro no banco, sem amigos importantes. Eu estava estudando para o concurso do Banco do Brasil, passei em 7°lugar, veio o processo de impeachment, ninguém foi chamado, governo não poderia "pedalar". Foi meu pior investimento na vida: tempo gasto com um conteúdo ridículo de provas ridículas de concursos públicos. Como odiei este país mesa época! Um país q explora concurseiros com taxas exorbitantes, q vaza gabaritos para quem eles desejam q ocupem as vagas, q cria cadastros de quem nunca vai ser chamado. "Qdo vc vai voltar a trabalhar?", a pergunta do meu pai me angustiou por muitos anos. A gota d'água do meu ódio foi uma seleção do Senai para assessor. Salão lotado de jornalistas desempregados, um tarde inteira preenchendo folhas, respondendo questões. Termina a prova. Encontro uma amiga, q me diz "vc sabe q ninguém aqui vai levar esta vaga, né?" Como odiei Fortaleza e como as coisas funcionam naquela cidade. Acabei voltando pra redação. Foi outra tortura: eu tinha que implorar material a assessorias. Não entendia aqueles acordos de divulgação, aquelas relações entre repórteres, editores e assessores. O auge do desencanto veio qdo descobri q tudo era um jogo de cartas marcadas, q o repórter ao lado também era assessor, o assessor era o repórter, e me cabia fazer o trabalho pesado para ele. Meu deus, me tira deste inferno de Dante. O auge da promiscuidade foi alguém ter deixado um arquivo no meu computador com toda uma pauta e estratégia de divulgação de um release, e eu me sentido no estranho mundo de Alice. Todo mundo era lobista político ou econômico, publicitário disfarçado. Aquela brodagem entre repórteres, assessores partidários e editores só me desanimava. Ai q saudades da Folha, onde repórter tem de ser inimigo de assessor, nada de brodagem. Foi um tempo terrível da minha vida, o retorno à redação, pq eu tinha prometido ao meu pai antes de morrer q eu não demoraria a voltar a trabalhar. Não entendia ele q o período daqueles anos sabaticos, de muita jardinagem, baby sitter e corrida, foram os melhores da minha vida
{dia de finados, lembrança triste} "Quando vc vai voltar a trabalhar? Não demore. Sua mãe está preocupada". Essas foram as últimas frases q ouvi do meu pai antes de morrer. Ele fechou os olhos com uma lembrança de um "filho fracassado", um looser, que estava há dois anos sem emprego, morando na casa da mãe, aos 37 anos de idade, gay, solteiro, sem dinheiro no banco, sem amigos importantes. Eu estava estudando para o concurso do Banco do Brasil, passei em 7°lugar, veio o processo de impeachment, ninguém foi chamado, governo não poderia "pedalar". Foi meu pior investimento na vida: tempo gasto com um conteúdo ridículo de provas ridículas de concursos públicos. Como odiei este país mesa época! Um país q explora concurseiros com taxas exorbitantes, q vaza gabaritos para quem eles desejam q ocupem as vagas, q cria cadastros de quem nunca vai ser chamado. "Qdo vc vai voltar a trabalhar?", a pergunta do meu pai me angustiou por muitos anos. A gota d'água do meu ódio foi uma seleção do Senai para assessor. Salão lotado de jornalistas desempregados, um tarde inteira preenchendo folhas, respondendo questões. Termina a prova. Encontro uma amiga, q me diz "vc sabe q ninguém aqui vai levar esta vaga, né?" Como odiei Fortaleza e como as coisas funcionam naquela cidade. Acabei voltando pra redação. Foi outra tortura: eu tinha que implorar material a assessorias. Não entendia aqueles acordos de divulgação, aquelas relações entre repórteres, editores e assessores. O auge do desencanto veio qdo descobri q tudo era um jogo de cartas marcadas, q o repórter ao lado também era assessor, o assessor era o repórter, e me cabia fazer o trabalho pesado para ele. Meu deus, me tira deste inferno de Dante. O auge da promiscuidade foi alguém ter deixado um arquivo no meu computador com toda uma pauta e estratégia de divulgação de um release, e eu me sentido no estranho mundo de Alice. Todo mundo era lobista político ou econômico, publicitário disfarçado. Aquela brodagem entre repórteres, assessores partidários e editores só me desanimava. Ai q saudades da Folha, onde repórter tem de ser inimigo de assessor, nada de brodagem. Foi um tempo terrível da minha vida, o retorno à redação, pq eu tinha prometido ao meu pai antes de morrer q eu não demoraria a voltar a trabalhar. Não entendia ele q o período daqueles anos sabaticos, de muita jardinagem, baby sitter e corrida, foram os melhores da minha vida
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