Referência para a identidade da Região Nordeste, o Repente foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil durante a 98ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão vinculado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Conhecida como Cantoria, a manifestação reúne verso, rima e oração, consideradas como os fundamentos do Repente. Os cantadores e cantadoras distribuem-se nas capitais e no Interior dos Estados do Nordeste e, também, nas regiões para onde houve migrações da População Nordestina.
João Santana - O registro é um reforço na nossa identidade cultural e no nosso povo com sua própria cultura. A gente acredita que, com isso, consigamos encontrar mais meios de incentivo e de apoio para divulgação desse tipo de arte. Estou bem contente. Foi um trabalho muito bem feito de identificar o que é o Repente. E faço um agradecimento ao Iphan e a todos os repentistas que contribuíram. É uma grande alegria!”, frisa o repentista João Santana.
O pedido de registro do Repente foi formalizado no ano de 2013 pela Associação dos Cantadores Repentistas e Escritores Populares do DF e Entorno. Desde então, o Iphan, autarquia federal vinculada à Secretaria Especial da Cultura e ao Ministério do Turismo, iniciou o processo de registro, que inclui a descrição detalhada do Repente, reunião de documentação relacionada e registro audiovisual, que culminam no dossiê de registro, produzido em parceria com o Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB). Durante a reunião do Conselho Consultivo, os 22 conselheiros aprovaram à unanimidade o registro do Repente.
- Repente é Poesia. Cantada e improvisada. Em linhas gerais, é um diálogo poético em que dois repentistas se alternam cantando estrofes criadas naquele instante ao passo em que se acompanham com toques de violas”, define o Dossiê de registro do bem, que listou mais de 200 contatos entre repentistas, associações e apologistas - público especial com grande familiaridade junto à Cultura do Repente.
- Numa apresentação de repente, a poesia flui em resposta aos estímulos e demandas dos ouvintes e às ideias e desafios que um poeta lança para o outro. As estrofes seguem regras bastante complexas e rígidas de rima, métrica e coerência temática, e, diante disso, fascinam pela naturalidade com que são feitas”.
Os fundamentos do Repente são Métrica, Rima e Oração (coerência e qualidade do conteúdo), como informam os próprios repentistas.
- A Rima diz respeito à identidade do som no final dos versos.
- A Métrica, por sua vez, se refere à técnica de improvisar e às características da linguagem da Cantoria: quantidade de versos, modalidade das estrofes e acento de cada verso.
O Dossiê de registro elaborado documenta mais de 50 modalidades de repente, dentre as quais estão os versos heptassílabos, cuja acentuação tônica obrigatória está na sétima sílaba, e decassílabos, em que o acento obrigatório está na terceira, sexta e décima sílabas de cada verso.
Larissa Peixoto - É motivo de grande alegria ter as rimas e os versos do Repente adentrando o rol do Patrimônio Cultural do Brasil, tanto por sua importância histórica quanto pela beleza da poesia e da música da manifestação”, comemora a presidente do Iphan, Larissa Peixoto, que comanda o Conselho Consultivo.
- O Repente tem seu lar na Região Nordeste e também noutras capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília para onde as migrações nordestinas legaram essa arte. É uma manifestação que se tornou uma das faces do Brasil”.
Com o reconhecimento do Conselho Consultivo, o Repente foi inscrito no Livro de Registro das Formas de Expressão, onde também estão registrados bens como a Roda de Capoeira, o Maracatu Nação (PE), o Carimbó (PA) e a Literatura de Cordel. A partir de então, o Repente passa a ser alvo de políticas públicas para a salvaguarda da manifestação, que devem incidir ainda sobre um universo de bens associados que inclui a Embolada, o Aboio, a Glosa e a Poesia de Bancada e Declamação.
A Formação do Repente - Com o registro do Repente, reconhecemos a relevância dessa forma de expressão, especialmente para a região Nordeste. A poesia, o canto, a musicalidade, a profissão dos cantadores compõem o Repente, que agora são salvaguardados pelo Iphan, que trabalhará em parceria com outras instituições do governo federal, dos governos estaduais, municipais e principalmente com a comunidade para a reprodução e sustentabilidade do bem”, informa o diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, Tassos Lycurgo.
Há registros da prática do Repente desde meados do século XIX nos estados de Pernambuco e Paraíba, conforme fontes históricas. As ocorrências mais antigas têm origem na Serra do Teixeira, na Paraíba. No início do Século XX, a manifestação teve importante papel na difusão do rádio na região. Até então, a maior parte dos repentistas tinha origem rural, vivendo no interior e cantando para plateias camponesas.
Uma realidade que se transformou na década de 1950, com os cantadores se fixando nas cidades à procura de ferramentas que auxiliassem a atuação do repentista, especialmente o Rádio e o Correio. Aos programas radiofônicos, no decorrer das décadas de 1980 e 1990, se somaram a gravação de discos e a realização de Festivais – mantendo a origem rural dos poetas. Mais recentemente, a internet se tornou mais uma ferramenta para a para divulgação de cantorias e festivais, o que ficou evidente em 2020 com as medidas de isolamento social, quando os eventos ganharam transmissão virtual por meio de lives.
Revalidação de Bens Culturais - Durante a reunião do Conselho Consultivo, foram apreciadas as revalidações:
- Do título de Patrimônio Cultural do Círio de Nossa Senhora de Nazaré (PA).
- Do Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas (MG).
- Do Modo de Fazer Renda Irlandesa tendo como referência este ofício em Divina Pastora (SE).
Conforme o Decreto 3.551/2000, os Bens Culturais registrados devem passar, pelo menos a cada dez anos, por processos de revalidação dos títulos de Patrimônio Cultural.
Nos últimos meses, o Iphan conduziu reuniões junto a pesquisadores e comunidades detentoras dos três bens, culminando num parecer técnico de revalidação.
O documento foi colocado em consulta pública para que a sociedade em geral pudesse opinar. Encerrado o prazo, o parecer e as manifestações da população foram apreciadas pela Câmara Setorial do Patrimônio Imaterial, que recomendou pela revalidação dos títulos. Por fim, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural votou pelas revalidações.
- www.iphan.gov.br
- facebook.com/iphangovbr
- twitter.com/IphanGovBr
- youtube.com/iphangovbr
- Com informações e fotos da Assessoria de Comunicação do Iphan.
Comentários
Postar um comentário