Coxinha do Gago e o Ré-restaurante de Suzana: Histórias de superação. As 14 lojas de coxinha de Anderson estão em vários pontos da cidade; o restaurante de Suzana fica localizado na comunidade do Solar do Unhão.
Tudo começou para Anderson Santana da mesma forma que para muitos brasileiros: enfrentando adversidades na luta pela sobrevivência. No caso de Santana, com uma particularidade: ele é gago e enfrentou muitos momentos difíceis até que, um dia, resolveu se aceitar. "Sou gago, e daí?"
"Quando comecei a desencanar do fato de ser gago, pensei: vou pegar o limão e fazer uma limonada. Tenho que usar isso a meu favor. A aceitação foi libertadora, quase mágica. A partir dali, ele abraçou sua condição e se transformou em um personagem inspirador. "Sou gago mesmo, eu não tô nem aí! E, a partir daí, percebi que fiquei menos gago, sabe?", conta Anderson.
A luta pela sobrevivência levou-o a abrir uma barraca de lanche – mas não qualquer lanche. A coxinha foi a escolha para seu produto principal, e o nome simples, porém impactante, ajudou a transformar o empreendimento em uma fórmula de sucesso: Coxinha do Gago. O jeito único e divertido de vender a coxinha se tornou sua marca registrada, encantando clientes com a simpatia de Anderson, que encontrou na iguaria sua vocação e superação.
A busca incessante por qualidade e sabor foi o diferencial da Coxinha do Gago. Anderson, naturalmente conhecido como Gago, buscou a excelência para seu produto, testando diversos fornecedores até decidir pela produção própria, fritando o produto na hora e usando uma farinha especial para que a coxinha não absorva tanto óleo, conquistando ainda mais clientes.
Hoje, a coxinha é uma das mais requisitadas. "Ela é crocante por fora e super macia por dentro. A gente está sempre buscando algo novo. Nosso filé de peito de frango é puro, não leva outra coisa. As pessoas sempre se surpreendem. Temos uma coxinha oriental, de salmão com cream cheese que vem com um sachê de teriyaki; tem a coxinha sertaneja. Então, a gente cria e brinca, sempre pautado pela qualidade", diz ele, orgulhoso do que conquistou com sua gagueira e simpatia.
Anderson lida muito bem com sua condição e com o ambiente que escolheu para trabalhar, onde a comunicação é sempre um desafio, e a culinária se tornou uma forma de expressão, permitindo que ele se conecte com os clientes de maneira leve e alegre. Seus vídeos nas redes sociais mostram bem esse momento desafiador.
"De vez em quando eu apareço para fazer vídeo e informar sobre as lojas. Nos comentários, os clientes dizem: 'Esse gago é fajuto, é gago do Paraguai'. Meus amigos, não estou gaguejando porque estou concentrado, estou calmo, falando rápido para não gaguejar. Já pensou fazer um vídeo gaguejando? Seria um vídeo de 24 horas!", brinca ele com seus amigos.
Outra empreendedora de sucesso e de muita dedicação é Suzana Almeida, 67 anos, do Ré-restaurante da Suzana. Tímida e um pouco envergonhada, ela diz que não se incomoda por ser gaga e enfrenta os desafios com amor. “O desafio é atender o cliente com todo o amor, disfarçando para ele não sair. Então eu vou mostrando os pedidos, vou conversando, mas tento não me atrapalhar para não passar vergonha”, conta enquanto gagueja.
Dona Suzana acredita que seu sucesso é resultado do amor com que prepara as iguarias, encantando anônimos e famosos. Suzana já até apareceu em um dos episódios da Netiflix, o Street Food: América Latina! Já conferiram?
“O sucesso é porque trabalho alegre, satisfeita, feliz, com amor. Acordo cedo com meu filho e vamos trabalhar com carinho. Aí vamos preparando tudo para que saia perfeito. É muito amor pela comida. Por isso tenho esse sucesso; minha comida é bem feita”, afirma.
O Ré-restaurante da Suzana ganhou esse nome depois que artistas do M.U.S.A.S. (Museu de Street Art Salvador), entidade sem fins lucrativos que sai grafitando por aí, almoçaram no local, depois de muito pedir à Suzana. Amaram a comida e o carisma da proprietária, que, gaguejando, disse: "Aqui não é re-restaurante não!"
Sem imaginar que seria elevada à condição de chef, ela recebeu como presente uma placa com o nome “Ré-restaurante da Suzana.” Foi um verdadeiro marco. A partir desse dia, o restaurante, que nem era restaurante, passou a ser um dos pontos mais celebrados na comunidade do Solar do Unhão, onde o estabelecimento está localizado, comercializando maravilhosas moquecas e outras iguarias, sendo muito bem frequentado até hoje.
Cada um à sua maneira, dona Suzana e Anderson Santana, da Coxinha do Gago, focam na dedicação. Desde o começo, Anderson estava decidido, como gosta de dizer, a "transformar o limão em uma limonada". Mais foco, impossível.
"Quando ia falar com os clientes, sempre chegava de uma forma alegre, sem medo. 'Olá, bom dia, boa tarde. Como vai o senhor, a senhora? Já conhece a Coxinha do Gago?' Os clientes gostavam da minha abordagem pelo fato de eu não me preocupar com o que iam pensar de mim. Eles dizem: 'Pô, que massa! Ele é gago, mas não tem essa preocupação com o que a gente vai pensar dele'", conta.
A interação com o público se tornou um marketing espontâneo, divertida e cativante, que conquistou a todos com a simpatia e descontração de Anderson. Eventualmente, ele também dá palestras em faculdades e eventos.
"Já fui convidado para palestrar algumas vezes. Em faculdades, já chego dizendo: 'E aí, como foi a noite de vocês? Dormiram bem?' O pessoal responde: 'Sim, dormi bem!' Aí eu digo: 'Graças a Deus, tá todo mundo descansado, porque a palestra é de um gago, e palestra de gago dura mais de 24 horas!' A galera cai na risada", conta.
Conhecido quase sempre como "Gago", ele entende que a gastronomia é mais do que comida – é uma forma de se conectar com as pessoas e transformar momentos desafiadores em sucesso. Por isso, Anderson é sempre convidado para palestrar, demonstrando autoestima e confiança, e mostrando que todos têm seu espaço e podem brilhar. Ele participa do 5º Encontro Baiano das Pessoas que Gaguejam que vai acontecer na próxima semana em Salvador e reúne especialistas no assunto. Anderson, o Gago, estará lá com sua simpatia e vontade de fazer todos refletirem sobre superação e força de vontade para acreditar em si mesmo.
De quebra, o Gago manda para nós a receita de sucesso da Coxinha do Gago!
Coxinha do Gago
Massa
- 300 gramas de batata 150 gramas de manteiga
- 2 xícaras de fécula de batata
- Farinha de rosca para empanar
Recheio
- 2 files de peito desfiado.
- 4 tabletes de caldo de galinha ou caldo do cozimento do frango.
- 1 cebola
- Páprica doce, sal, e alho a gosto.
- Salsa picada
Modo de Preparo: Com as batatas já cozidas e sem casca, junte a manteiga e o caldo do cozimento do frango, amassando até obter uma massa lisa.
Recheio
- Corte os filés em cubos e tempere com páprica e sal.
- Em uma panela com um fio de óleo, frite a cebola e o alho e acrescente 2 xícaras de água. Quando os cubos de frango estiverem cozidos, desfie-os e acrescente a cebolinha picada.
- Agora, porcione a massa no tamanho que preferir, abra uma porção na mão, coloque o recheio desfiado no centro e feche, moldando no formato de coxinha.
- Depois de modeladas, passe as coxinhas no leite e, em seguida, na farinha de rosca para empanar.
- Agora é só fritar.
Isabel Oliveira-@isabel _qoliveira
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