Jornalista Ronaldo Salgado: RODOVIAS & MAPAS EXISTENCIAIS No longínquo 1978, abri mão de emprego no jornal O Povo para viajar com um irmão, de carro, de Fortaleza a Criciúma, em Santa Catarina - quase quatro mil quilômetros de estrada. Estava com 22 anos, prestes a me formar em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e com o coração selvagem entregue a ventura e aventuras a 3 por 2. Pouco conhecia do Brasil e de mim mesmo - sequer sabia dirigir e minha contribuição era não dormir durante a viagem, apenas beber cachaça levada num garrafão de vinho antigo de cinco litros. Pela BR 116, pensei que estava na BR 03 do Tony Tornado, ovacionado num festival da canção pela televisão. Foram 4 dias e 4 noites de viagem, num Fiat 147 Zero Km, mais parecido com uma caixa de fósforos. O mapa geográfico do Brasil se abriu pra mim, e eu nem desconfiava de que existencialmente eu me revelava como um ser humano forte e frágil, sorridente e lacrimoso, destemido e amedrontado com a vida... Perguntara a mim mesmo, naqueles dias, naquela rodovia apelidada de Rodovia da Morte, ante o número de acidentes registrados de ponta a ponta: o que é a vida? Fiz o percurso inverso de ônibus, 40 dias depois, sozinho, entre a certeza de que o Brasil é um país gigante e a incerteza do que em Fortaleza me esperava. Fiquei dois anos desempregado e desesperado. Sem trabalho, sem amor, sem perspectiva de qualquer natureza. Apenas com o mesmo coração selvagem e a sina etílica que ainda me acompanha nos dias de hoje. Claro, fiz meu on the road particular, o qual muito me ensinou a ser o que sou e o que não sou. O irmão com quem viajei ainda está por lá em Criciúma, onde constituiu família, hoje com 3 filhos, 3 netos e vivendo o outono do patriarca dele, enquanto cá fico entrelaçado em letras e suspiros de crônicas, memórias, saudades e devaneios, envolto por sonhos do passado e abissais horizontes de um presente em estado de exclamações e interrogações.
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