Do balcão da padaria ao conceito de delicatessen da família Faro. André Faro relembra origens e celebra legado da família galega na Bahia.
André Faro, atual dirigente da delicatessen Almacen Pepe (@almacenpepe), empreendimento que compeleta 10 anos este ano de 2025, já nasceu dentro de uma padaria. Desde muito miudinho, transitava entre os pães, o trigo e os produtos típicos das padarias de antigamente. Naquela época, não havia o que hoje conhecemos por delicatessen, conceito contemporâneo introduzido pela família Faro Carballo.
- Nasci, como eu digo, dentro de uma padaria. Eu fui feito brincando em uma padaria. Eu morava em cima da Panificadora Elétrica da Barra, que foi a nossa primeira padaria, e dali eu realmente tive sempre o contato com a empresa, sempre tive o contato com as mudanças, com o crescimento profissional de meu pai.”
André Luís Faro Carballo refere-se aos primeiros anos da família na Bahia, que começaram com uma simples padaria nos anos 1960 e, anos depois, introduziram o conceito de delicatessen na capital baiana, oferecendo desde pães e doces artesanais até queijos, embutidos, mariscos, gelatos e uma adega com rótulos selecionados, com a famosa Perine, da qual foram proprietários por muitos anos. A empresa sempre foi referência no setor de gastronomia de alto padrão no estado, funcionando como uma rede de delicatessens.
Foi com essa base, em meio às brincadeiras da infância, que toda a cultura galega espanhola impregnou o “brasileirinho”, criado debaixo do forte sotaque espanhol, levando consigo o legado da cultura de Pontevedra, região galega da família, enquanto aprendia sobre os negócios.
E o primeiro deles foi o pão. Quem, dos mais antigos, não conheceu algum espanhol que vislumbrou, na capital baiana, uma padaria como uma grande oportunidade de negócio, ainda no tempo em que sequer existia o conceito de delicatessen?
José Faro Rua, mais conhecido como Pepe Faro, está entre os muitos espanhóis que começaram sua jornada no país tendo o pão como grande estrela e principal fonte de renda. A imagem de Pepe Faro atrás do balcão é uma das melhores lembranças de André, que conta sobre o orgulho que tem do pai, um padeiro que se recusa, até hoje, a ser chamado de empresário.
Foi com o pai, hoje com 83 anos, a serem completados no início de setembro, e com o avô, que André deu seus primeiros passos no mundo dos pães e dos negócios.
- Marcou muito a história de meu pai, no sentido de ver ele sempre na padaria. Eu via ele no fundo da padaria batendo massa, fazendo pão, trabalhando como padeiro. Não tem melhor recordação na minha vida. Ele até brinca que todo mundo chama ele de empresário, mas ele diz: ‘Não, eu não sou empresário, eu sou padeiro. Eu nasci, eu me formei na padaria, eu sou padeiro’”, conta sobre o pai.
Outra grande lembrança é com o avô. Foi com ele que André Faro aprendeu sobre o princípio dos negócios, quando ganhou seus primeiros “tostões”.
- Com sete ou oito anos, eu sempre ia para o escritório com meu avô, que era o responsável pelo setor financeiro. Ele me colocava para ajudar na tesouraria e, quando terminava, ele me entregava, na época, não sei qual era a moeda, não sei se já era o Real – mas vamos supor que fossem cinco reais –, aquilo para mim era como se eu tivesse ganhado meu primeiro salário.”
E a festa com os “cinco conto” ficou eternizada na memória do menino. “Eu descia correndo do escritório, ia para uma barraca que tinha ali na Barra, ao lado da padaria, e comprava chiclete, comprava figurinha, comprava algo. Aquilo para mim era um motivador”, conta, emocionado.
Foi assim que André construiu sua história de empreendedor, entrelaçada com a própria trajetória da empresa do ramo da alimentação. O que a família Faro talvez não tenha percebido é que também estaria resgatando a memória da família, que sempre se reunia em torno de receitas que atravessaram gerações na família galega.
- Como a gente tem uma colônia espanhola muito forte aqui em Salvador, eu imaginei levar as comidas típicas que os galegos mais gostavam, que são a paella valenciana e a paella de frutos do mar; depois os callos, uma dobradinha espanhola com grão-de-bico; e a tortilha, com ovos, batata e chouriço”, conta André.
Não é por acaso que as receitas tradicionais são a opção no restaurante da família nos típicos domingões.
- São três pratos típicos que a gente levou para o restaurante para atrair o público, despertando aquela lembrança afetiva da Espanha”, afirma.
A paella e a tortilla são pratos típicos que conquistaram o público local, reforçando a identidade do negócio. O chef Luiz Barromeu, do Almacen Pepe, que o diga. Barromeu explica que uma das iguarias, a tortilla, é aclamada pelo público tanto quanto a paella, mais popular.
- O público que geralmente procura pela tortilla já conhece e o restaurante é um dos poucos lugares que ainda fazem a tortilla da forma bem tradicional. O que eu vejo é que as pessoas realmente ficam maravilhadas”, diz.
O chef é enfático em dizer que os pratos espanhóis não foram adaptados “de forma alguma”, e explica:
- Eu aprendi com Dona Almerinda, a matriarca da família Faro. Então, eu procuro fazer exatamente da forma que ela me ensinou, para manter a originalidade da receita, que eu acho muito importante”, afirma.
É Barromeu quem encerra em tom de gratidão : o restaurante não é só um lugar para comer, mas também para vivenciar um pedaço da Espanha misturada à identidade da Bahia.
- Por deixar a gente viver um pouco da experiência única, que é poder unir duas culturas tão ricas, como a cultura baiana e a gastronomia espanhola”.
E vamos aprender a receita, simples, da saborosa tortilla tradicional da Espanha. Esta receita está bem fácil! Vale aprender!
Tortilla de Batata-Ingredientes:
- 6 batatas grandes
- 8 ovos
- 1 cebola e meia grandes
- 400 ml de azeite de oliva (aproximadamente)
- Sal a gosto
- Pimenta-do-reino a gosto
- 150g de chourizo espanhol
Modo de preparo:
- Descasque as batatas, corte-as ao meio e depois em lâminas não muito finas.
- Fatie a cebola em lâminas.
- Em uma frigideira grande, aqueça o azeite e coloque as batatas e a cebola para cozinhar em fogo médio, até que as batatas fiquem macias.
- Em um bowl, bata os ovos e tempere com sal e pimenta.
- Escorra o excesso de azeite das batatas e da cebola e misture-os ainda quentes aos ovos batidos e ao chourizo esmigalhados
- Despeje a mistura em uma frigideira antiaderente, em fogo médio, e deixe dourar de um lado.
- Com a ajuda de um prato, vire a tortilha e coloque-a novamente na frigideira para dourar o outro lado.
- Repita essa operação quantas vezes achar necessário, até que a tortilha esteja dourada por completo.
- Sirva quente e seja feliz!
- @isabel _qoliveira
- belaoliveira2729@gmail.com
- Isabel Oliveira (Facebook)
- Com fotos de Alexandre Reis.
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