Às vésperas do começo da campanha oficial à Presidência, quatro anos atrás, o debate econômico orbitou quase por inteiro, nas redes sociais, a partir de um tópico sempre importante para o brasileiro, mas nem sempre sob o ponto de vista da economia: o futebol. A Copa do Mundo de 2014, sediada pelo Brasil governado por Dilma Rousseff, foi usada na web como elemento central de diferentes discussões econômicas, que refletem precisamente o momento vivido pelo país no último ciclo eleitoral — e como as agendas e pautas de economia do Brasil de hoje são bastante distintas, inclusive para os atuais candidatos a presidente.
No mapa de interações sobre o debate econômico no país, de 15 de junho a 15 de julho de 2014, período exato de coincidência com a realização da Copa, o desempenho da competição (e da seleção brasileira, eliminada pela Alemanha) operou como termômetro da percepção dos brasileiros sobre os altos gastos públicos realizados pelo governo para a competição, a carga tributária, corrupção e a prestação de serviços públicos de qualidade em saúde e educação. O desemprego, por exemplo, ainda não despontava como grande subtema econômico nas redes sociais, e nem as reformas — que emergiram como agendas centrais a partir da interrupção do segundo mandato de Dilma, em 2016.
O "elemento Copa", inclusive, se faz mais presente no principal núcleo de debate do grafo (em rosa), que reuniu 20,6% dos perfis que participaram da discussão sobre economia. Sem manifestar apoio político a nenhum dos eixos eleitorais do período pré-campanha de 2014, Dilma, Aécio Neves ou Eduardo Campos — que viria a falecer em 13 de agosto —, o grupo é dominado por piadas e sátiras ao maciço investimento federal em estádios (frente à falta de recursos para hospitais e escolas) e ao uso de impostos para financiar uma competição esportiva. O debate sobre o "legado" da Copa, que previa melhorias em infraestrutura, segurança pública e demais serviços públicos para o país, é reconhecido como falho pelos perfis, que demonstram alegria com o Mundial, mas ironizam o fato de que os gastos do governo não irão resultar em benefícios para a população.
*O grafo conta com 255.699 retuítes a partir de uma base de 923.864 tuítes coletados sobre o tema, sob amostragem de 50% do volume de postagens identificadas.
Segundo maior núcleo do grafo, o grupo em amarelo (10,12%) se organiza em função da imprensa tradicional, que mantinha maior relevância no debate econômico em 2014 do que atualmente. Nesse núcleo, apresentava-se maior diversidade de temas de economia abordados, a partir de eventos e pautas específicas e temporais, mas com principal ênfase ao desdobramento do "legado da Copa", entendido de forma sobretudo muito negativa. As reportagens e postagens destacaram o descumprimento de promessas em investimentos, o alto custo da competição, os atrasos na entrega de obras e o valor usado em estádios, antevendo que muitos se converteriam em "elefantes brancos".
Notadamente, os dois grupos com alinhamento político a Aécio e Dilma não foram majoritários na discussão econômica — ao contrário do que ocorre hoje, com as regiões online de influência de Lula e Jair Bolsonaro em predomínio sobre quaisquer outros núcleos. Com 8% dos perfis (em verde), o grupo de maior proximidade com o PSDB também discute o impacto econômico da Copa, com visão mais explicitamente crítica ao governo do PT. Os gastos públicos, o uso político da máquina estatal (com programas sociais), os baixos índices de crescimento econômico, a inflação e a Petrobras são os principais tópicos de economia citados pelos perfis, que enfatizam o baixo retorno, para a população, dos impostos pagos ao governo. Muitos perfis também destacam o investimento brasileiro em países como Angola e Cuba, sob o argumento de que é uma estratégia apenas política, e não interessada em resultados positivos para a economia brasileira.
Já do outro lado, no núcleo pró-Dilma (em vermelho, 7,49% dos perfis), ficou marcado o recurso ao futebol como representação dos resultados positivos do Brasil na economia, principalmente a partir de postagens da conta oficial da ex-presidente. O governo federal enfatiza a importância de se melhorar as condições financeiras dos clubes do país e a competitividade com o cenário internacional de futebol, destacando ainda a força das estatais (particularmente a Petrobras), dos investimentos no mercado interno brasileiro e da criação de empregos durante os governos do PT e por conta da Copa. A cúpula dos BRICS também é citada positivamente como símbolo do reposicionamento do Brasil como uma potência econômica mundial, assim como balanços que apontam os benefícios do Mundial para o crescimento do PIB ao fim de 2014.
*O grafo conta com 599.612 retuítes a partir de uma base de 868.386 tuítes coletados sobre o tema, sob amostragem de 50% do volume de postagens identificadas.
Em contraposição à pequena presença de grupos de apoio aos dois atores de maior protagonismo na eleição de 2014 no debate econômico, este ano os núcleos que orbitam em função de perfis e influenciadores alinhados ao PT e a Jair Bolsonaro respondem sozinhos por 57,5% de todas as contas que falaram sobre economia no Twitter entre 15 de junho e 15 de julho. Isso dá boa mostra da politização e polarização de tópicos gerais como desemprego, impostos, reformas e contas públicas nas redes sociais, com os dois lados capturando a dianteira na condução dos temas de impacto para a sociedade.
Ligeiramente maior que o núcleo mais próximo a Bolsonaro (e a outros atores alinhados à direita, em menor escala), o grupo em vermelho, pró-Lula e próximo de nomes ligados à esquerda, responde por 29,6% dos perfis do grafo e focaliza posicionamentos a partir da oposição entre os governos petistas versus a gestão Temer e outras plataformas contrárias ao PT. Todos os grandes subtemas econômicos são debatidos, portanto, a partir desse eixo, incluídos em destaque o papel (e tamanho) da atuação do Estado na economia, investimentos sociais, desigualdade e direitos trabalhistas e previdenciários. Sob foco fortemente eleitoral, articulando atores de PT, PCdoB, Psol e, em distanciamento maior para estes, PDT e PSB, o grupo deposita menos atenção a questões específicas da conjuntura atual, como o desemprego, a crise e a carga tributária, enfatizando um "projeto político" mais abrangente e que contempla maior investimento estatal, manutenção de empresas estratégicas sob controle brasileiro, programas de combate à pobreza e garantias sociais.
Do outro lado, o núcleo à direita e com Bolsonaro ao centro (azul, 29% dos perfis), o principal tópico de debate contrapõe a estrutura do estado frente aos serviços que presta à sociedade. Ou seja, com a identificação da elite política (vista como corrupta), dos servidores públicos, da carga tributária e da burocracia como condutores da crise, da pobreza, dos serviços de má qualidade e, principalmente, do desemprego. Somam-se críticas ao tamanho e aos custos do Estado brasileiro, aos privilégios de servidores e aos impostos pagos rotineiramente, sob o argumento de que a privatização, a redução de interferência do governo na economia e o investimento em segurança pública são centrais para a resolução de diferentes problemas. Temas regulares de economia como inflação, câmbio e juros passam longe das esferas de maior impacto no debate.
Com 8,59% dos perfis (em amarelo), apenas um núcleo regido pela imprensa tradicional opera contato entre os dois polos — ao contrário de 2014, pouco do debate econômico apresenta agrupamentos não partidários ou sem explícito teor político. Mobilizado por portais de notícias e alguns poucos influenciadores "intermediários" entre esquerda e direita, que fazem críticas aos dois lados, o núcleo aborda dados e informações específicos sobre a atual conjuntura brasileira, como dados de geração de emprego, previsões de crescimento, imigração e déficit público. Em maior equivalência em relação à cobertura temática apresentada nos dois outros núcleos, o principal destaque é a questão tributária, abordada por muitos pontos de vista: imposto de renda, sonegação, corrupção, custo da máquina estatal e educação pública.
O teor do debate econômico: 2014 x 2018
Ressalvadas as diferenças de perfil dos usuários de redes sociais entre 2014 e 2018 – e a tendência crescente do tamanho do debate na esfera virtual em diversos temas neste período, incluindo a economia – há uma série de diferenças (mas também semelhanças) entre as estruturas temáticas do debate econômico no contexto eleitoral entre 2014 e 2018. Entre junho e julho de 2014, as discussões eleitorais, em geral, estavam focadas em três candidatos: Dilma Rousseff (PT), que tentava a reeleição, Aécio Neves (PSDB), que fazia oposição direta à candidatura petista e Eduardo Campos (PSB), que tentava se firmar como terceira via. Na economia a situação é exatamente esta. Diferentemente da situação atual, a discussão estava fortemente polarizada entre PT e PSDB.
Em relação à Dilma, como mostra a nuvem a seguir, a principal discussão econômica do momento era o legado da copa do mundo de 2014 e sua relação com a gestão das contas públicas, como se pode ver em palavras como "dinheiro", "povo", "eficiente", "impostos", entre outras. O conteúdo era fortemente crítico em relação às escolhas públicas realizadas no âmbito orçamentário. Os usuários questionavam o uso de recursos públicos em estádios e outras obras em detrimento de outros serviços públicos.
*Amostra de 50% do debate total, contendo 10.511 menções analisadas.
Já em relação a Aécio, conforme a próxima nuvem, o debate era praticamente dominado pela crítica ao PT, como se pode ver pela centralidade da palavra "Dilma", além de "rever", "decisões", que são palavras que remetem à proposta do candidato de fazer diferente em relação aos governos petistas. Naquele período, já eram visíveis discussões que evidenciam a gestão de Aécio no governo do estado de Minas Gerais de forma crítica, assim como a estratégia do candidato de se mostrar preparado para a presidência.
*Amostra de 50% do debate total, contendo 3.734 menções analisadas.
Nesse sentido, as discussões em torno de Dilma assim como de Aécio eram pouco propositivas, ou seja, discutia-se pouco a respeito das questões centrais da agenda econômica pós-eleitoral. Essa situação é diferente no caso de Eduardo Campos, conforme a nuvem de palavras sobre o candidato. As discussões, apesar de menos numerosas, versavam sobre impostos, gestão das contas públicas e crédito, entre outros temas da agenda econômica.
*Amostra de 50% do debate total, contendo 1.632 menções analisadas.
Em 2018, o cenário eleitoral é bastante distinto. Além, é claro, do fato de copa do mundo neste ano não ter sido realizada no Brasil, a pulverização de candidaturas e a situação econômica desfavorável do país trouxeram outros temas à tona, colocando a economia como um dos principais temas discutidos em torno de praticamente todos os presidenciáveis, mesmo antes da definição oficial das candidaturas.
A seguir são apresentadas as nuvens de palavras, considerando o período de 15 de junho a 15 de julho de 2018 para cinco candidatos Lula (PT), Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (REDE), Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT), que são os candidatos que têm desempenhado melhor nas pesquisas eleitorais até o momento.
Assim como em 2014, as nuvens nem sempre apresentam conteúdo focado em propostas para a área econômica. No caso de Lula, por exemplo, o debate acaba centrado em torno das reviravoltas relacionadas à sua prisão, o que faz com que, quando o debate econômico venha à tona, não aborde um assunto específico, mas críticas ou defesas gerais sobre o programa do seu governo anterior.
*Amostra de 50% do debate total, contendo 5.408 menções analisadas.
Algo semelhante ocorre com Marina Silva. As discussões em torno da pré-candidata tem focado mais em questões políticas do que econômicas, bem como suas críticas em relação ao governo atual e outros programas de governo. Em menor grau, há uma debate em torno de suas propostas como rever o teto de gastos e a Reforma Trabalhista e em torno da sua relação com o mercado financeiro.
*Amostra de 50% do debate total, contendo 516 menções analisadas.
No caso de Jair Bolsonaro, pode-se observar uma concentração em torno de palavras ("economista", por exemplo) que remetem às propostas aventadas até o momento por Paulo Guedes, provável ministro da Fazenda caso o deputado federal seja eleito presidente. Isso é reiterado pela presença de palavras como "reforma" e "dívida", o que revela o interesse do economista no tema do controle da dívida (incluindo sua proposta de usar recursos de privatização para tal).
*Amostra de 50% do debate total, contendo 4.670 menções analisadas.
*Amostra de 50% do debate total, contendo 710 menções analisadas.
Já em relação a Ciro Gomes, a nuvem é dominada por palavras que remetem ao evento em que o presidenciável sofreu vaias dos empresários ao se posicionar contra a Reforma Trabalhista. Suas visões, interpretadas pelos usuários como radicais, tendem a gerar um alto volume de críticas e defesas, de forma polarizada.
*Amostra de 50% do debate total, contendo 1.039 menções analisadas.
No mapa de interações sobre o debate econômico no país, de 15 de junho a 15 de julho de 2014, período exato de coincidência com a realização da Copa, o desempenho da competição (e da seleção brasileira, eliminada pela Alemanha) operou como termômetro da percepção dos brasileiros sobre os altos gastos públicos realizados pelo governo para a competição, a carga tributária, corrupção e a prestação de serviços públicos de qualidade em saúde e educação. O desemprego, por exemplo, ainda não despontava como grande subtema econômico nas redes sociais, e nem as reformas — que emergiram como agendas centrais a partir da interrupção do segundo mandato de Dilma, em 2016.
O "elemento Copa", inclusive, se faz mais presente no principal núcleo de debate do grafo (em rosa), que reuniu 20,6% dos perfis que participaram da discussão sobre economia. Sem manifestar apoio político a nenhum dos eixos eleitorais do período pré-campanha de 2014, Dilma, Aécio Neves ou Eduardo Campos — que viria a falecer em 13 de agosto —, o grupo é dominado por piadas e sátiras ao maciço investimento federal em estádios (frente à falta de recursos para hospitais e escolas) e ao uso de impostos para financiar uma competição esportiva. O debate sobre o "legado" da Copa, que previa melhorias em infraestrutura, segurança pública e demais serviços públicos para o país, é reconhecido como falho pelos perfis, que demonstram alegria com o Mundial, mas ironizam o fato de que os gastos do governo não irão resultar em benefícios para a população.
*O grafo conta com 255.699 retuítes a partir de uma base de 923.864 tuítes coletados sobre o tema, sob amostragem de 50% do volume de postagens identificadas.
Segundo maior núcleo do grafo, o grupo em amarelo (10,12%) se organiza em função da imprensa tradicional, que mantinha maior relevância no debate econômico em 2014 do que atualmente. Nesse núcleo, apresentava-se maior diversidade de temas de economia abordados, a partir de eventos e pautas específicas e temporais, mas com principal ênfase ao desdobramento do "legado da Copa", entendido de forma sobretudo muito negativa. As reportagens e postagens destacaram o descumprimento de promessas em investimentos, o alto custo da competição, os atrasos na entrega de obras e o valor usado em estádios, antevendo que muitos se converteriam em "elefantes brancos".
Notadamente, os dois grupos com alinhamento político a Aécio e Dilma não foram majoritários na discussão econômica — ao contrário do que ocorre hoje, com as regiões online de influência de Lula e Jair Bolsonaro em predomínio sobre quaisquer outros núcleos. Com 8% dos perfis (em verde), o grupo de maior proximidade com o PSDB também discute o impacto econômico da Copa, com visão mais explicitamente crítica ao governo do PT. Os gastos públicos, o uso político da máquina estatal (com programas sociais), os baixos índices de crescimento econômico, a inflação e a Petrobras são os principais tópicos de economia citados pelos perfis, que enfatizam o baixo retorno, para a população, dos impostos pagos ao governo. Muitos perfis também destacam o investimento brasileiro em países como Angola e Cuba, sob o argumento de que é uma estratégia apenas política, e não interessada em resultados positivos para a economia brasileira.
Já do outro lado, no núcleo pró-Dilma (em vermelho, 7,49% dos perfis), ficou marcado o recurso ao futebol como representação dos resultados positivos do Brasil na economia, principalmente a partir de postagens da conta oficial da ex-presidente. O governo federal enfatiza a importância de se melhorar as condições financeiras dos clubes do país e a competitividade com o cenário internacional de futebol, destacando ainda a força das estatais (particularmente a Petrobras), dos investimentos no mercado interno brasileiro e da criação de empregos durante os governos do PT e por conta da Copa. A cúpula dos BRICS também é citada positivamente como símbolo do reposicionamento do Brasil como uma potência econômica mundial, assim como balanços que apontam os benefícios do Mundial para o crescimento do PIB ao fim de 2014.
*O grafo conta com 599.612 retuítes a partir de uma base de 868.386 tuítes coletados sobre o tema, sob amostragem de 50% do volume de postagens identificadas.
Em contraposição à pequena presença de grupos de apoio aos dois atores de maior protagonismo na eleição de 2014 no debate econômico, este ano os núcleos que orbitam em função de perfis e influenciadores alinhados ao PT e a Jair Bolsonaro respondem sozinhos por 57,5% de todas as contas que falaram sobre economia no Twitter entre 15 de junho e 15 de julho. Isso dá boa mostra da politização e polarização de tópicos gerais como desemprego, impostos, reformas e contas públicas nas redes sociais, com os dois lados capturando a dianteira na condução dos temas de impacto para a sociedade.
Ligeiramente maior que o núcleo mais próximo a Bolsonaro (e a outros atores alinhados à direita, em menor escala), o grupo em vermelho, pró-Lula e próximo de nomes ligados à esquerda, responde por 29,6% dos perfis do grafo e focaliza posicionamentos a partir da oposição entre os governos petistas versus a gestão Temer e outras plataformas contrárias ao PT. Todos os grandes subtemas econômicos são debatidos, portanto, a partir desse eixo, incluídos em destaque o papel (e tamanho) da atuação do Estado na economia, investimentos sociais, desigualdade e direitos trabalhistas e previdenciários. Sob foco fortemente eleitoral, articulando atores de PT, PCdoB, Psol e, em distanciamento maior para estes, PDT e PSB, o grupo deposita menos atenção a questões específicas da conjuntura atual, como o desemprego, a crise e a carga tributária, enfatizando um "projeto político" mais abrangente e que contempla maior investimento estatal, manutenção de empresas estratégicas sob controle brasileiro, programas de combate à pobreza e garantias sociais.
Do outro lado, o núcleo à direita e com Bolsonaro ao centro (azul, 29% dos perfis), o principal tópico de debate contrapõe a estrutura do estado frente aos serviços que presta à sociedade. Ou seja, com a identificação da elite política (vista como corrupta), dos servidores públicos, da carga tributária e da burocracia como condutores da crise, da pobreza, dos serviços de má qualidade e, principalmente, do desemprego. Somam-se críticas ao tamanho e aos custos do Estado brasileiro, aos privilégios de servidores e aos impostos pagos rotineiramente, sob o argumento de que a privatização, a redução de interferência do governo na economia e o investimento em segurança pública são centrais para a resolução de diferentes problemas. Temas regulares de economia como inflação, câmbio e juros passam longe das esferas de maior impacto no debate.
Com 8,59% dos perfis (em amarelo), apenas um núcleo regido pela imprensa tradicional opera contato entre os dois polos — ao contrário de 2014, pouco do debate econômico apresenta agrupamentos não partidários ou sem explícito teor político. Mobilizado por portais de notícias e alguns poucos influenciadores "intermediários" entre esquerda e direita, que fazem críticas aos dois lados, o núcleo aborda dados e informações específicos sobre a atual conjuntura brasileira, como dados de geração de emprego, previsões de crescimento, imigração e déficit público. Em maior equivalência em relação à cobertura temática apresentada nos dois outros núcleos, o principal destaque é a questão tributária, abordada por muitos pontos de vista: imposto de renda, sonegação, corrupção, custo da máquina estatal e educação pública.
O teor do debate econômico: 2014 x 2018
Ressalvadas as diferenças de perfil dos usuários de redes sociais entre 2014 e 2018 – e a tendência crescente do tamanho do debate na esfera virtual em diversos temas neste período, incluindo a economia – há uma série de diferenças (mas também semelhanças) entre as estruturas temáticas do debate econômico no contexto eleitoral entre 2014 e 2018. Entre junho e julho de 2014, as discussões eleitorais, em geral, estavam focadas em três candidatos: Dilma Rousseff (PT), que tentava a reeleição, Aécio Neves (PSDB), que fazia oposição direta à candidatura petista e Eduardo Campos (PSB), que tentava se firmar como terceira via. Na economia a situação é exatamente esta. Diferentemente da situação atual, a discussão estava fortemente polarizada entre PT e PSDB.
Em relação à Dilma, como mostra a nuvem a seguir, a principal discussão econômica do momento era o legado da copa do mundo de 2014 e sua relação com a gestão das contas públicas, como se pode ver em palavras como "dinheiro", "povo", "eficiente", "impostos", entre outras. O conteúdo era fortemente crítico em relação às escolhas públicas realizadas no âmbito orçamentário. Os usuários questionavam o uso de recursos públicos em estádios e outras obras em detrimento de outros serviços públicos.
*Amostra de 50% do debate total, contendo 10.511 menções analisadas.
Já em relação a Aécio, conforme a próxima nuvem, o debate era praticamente dominado pela crítica ao PT, como se pode ver pela centralidade da palavra "Dilma", além de "rever", "decisões", que são palavras que remetem à proposta do candidato de fazer diferente em relação aos governos petistas. Naquele período, já eram visíveis discussões que evidenciam a gestão de Aécio no governo do estado de Minas Gerais de forma crítica, assim como a estratégia do candidato de se mostrar preparado para a presidência.
*Amostra de 50% do debate total, contendo 3.734 menções analisadas.
Nesse sentido, as discussões em torno de Dilma assim como de Aécio eram pouco propositivas, ou seja, discutia-se pouco a respeito das questões centrais da agenda econômica pós-eleitoral. Essa situação é diferente no caso de Eduardo Campos, conforme a nuvem de palavras sobre o candidato. As discussões, apesar de menos numerosas, versavam sobre impostos, gestão das contas públicas e crédito, entre outros temas da agenda econômica.
*Amostra de 50% do debate total, contendo 1.632 menções analisadas.
Em 2018, o cenário eleitoral é bastante distinto. Além, é claro, do fato de copa do mundo neste ano não ter sido realizada no Brasil, a pulverização de candidaturas e a situação econômica desfavorável do país trouxeram outros temas à tona, colocando a economia como um dos principais temas discutidos em torno de praticamente todos os presidenciáveis, mesmo antes da definição oficial das candidaturas.
A seguir são apresentadas as nuvens de palavras, considerando o período de 15 de junho a 15 de julho de 2018 para cinco candidatos Lula (PT), Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (REDE), Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT), que são os candidatos que têm desempenhado melhor nas pesquisas eleitorais até o momento.
Assim como em 2014, as nuvens nem sempre apresentam conteúdo focado em propostas para a área econômica. No caso de Lula, por exemplo, o debate acaba centrado em torno das reviravoltas relacionadas à sua prisão, o que faz com que, quando o debate econômico venha à tona, não aborde um assunto específico, mas críticas ou defesas gerais sobre o programa do seu governo anterior.
*Amostra de 50% do debate total, contendo 5.408 menções analisadas.
Algo semelhante ocorre com Marina Silva. As discussões em torno da pré-candidata tem focado mais em questões políticas do que econômicas, bem como suas críticas em relação ao governo atual e outros programas de governo. Em menor grau, há uma debate em torno de suas propostas como rever o teto de gastos e a Reforma Trabalhista e em torno da sua relação com o mercado financeiro.
*Amostra de 50% do debate total, contendo 516 menções analisadas.
No caso de Jair Bolsonaro, pode-se observar uma concentração em torno de palavras ("economista", por exemplo) que remetem às propostas aventadas até o momento por Paulo Guedes, provável ministro da Fazenda caso o deputado federal seja eleito presidente. Isso é reiterado pela presença de palavras como "reforma" e "dívida", o que revela o interesse do economista no tema do controle da dívida (incluindo sua proposta de usar recursos de privatização para tal).
*Amostra de 50% do debate total, contendo 4.670 menções analisadas.
*Amostra de 50% do debate total, contendo 710 menções analisadas.
Já em relação a Ciro Gomes, a nuvem é dominada por palavras que remetem ao evento em que o presidenciável sofreu vaias dos empresários ao se posicionar contra a Reforma Trabalhista. Suas visões, interpretadas pelos usuários como radicais, tendem a gerar um alto volume de críticas e defesas, de forma polarizada.
*Amostra de 50% do debate total, contendo 1.039 menções analisadas.
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